terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Palhaço

Em sua estreia como diretor no excelente Feliz Natal, o ator Selton Mello mostrou uma segurança invejável na condução de uma história dramaticamente pesada e que tinha personagens de grande complexidade. Se naquele filme Mello optou por ficar responsável apenas pelo roteiro e pela direção, em O Palhaço ele mostra ter confiança para aparecer também na frente das câmeras, algo bastante compreensível já que, em comparação com Feliz Natal, este novo filme é muito mais leve. O resultado do grande talento do ator em sua tripla função resulta em um filme adorável do início ao fim.
Escrito por Selton Mello em parceria com Marcelo Vindicatto, O Palhaço nos mostra a vida de um grupo de circo liderado por Benjamim (Mello) e seu pai, Valdemar (Paulo José), a dupla de palhaços da trupe. Para os olhos do público que os assiste, trata-se de um grupo feliz e divertido. Mas a realidade é bem diferente, já que eles mal têm dinheiro para se sustentar. Ao mesmo tempo, Benjamim está em busca de algo que não tem conhecimento, mas que poderá definir o resto de sua vida.
Mello inicia o filme nos apresentando ao espetáculo do circo. O grupo é composto de profissionais talentosíssimos, o que faz com que o show seja alegre, descontraído e muito divertido. Logo depois disso, o diretor corta para o pós-show nos bastidores e mostra que o grupo tem seus próprios problemas, como a precariedade do local e da instalação. A boa fotografia de Adrian Teijido difere bastante as duas partes. Se inicialmente vemos cores quentes que ressaltam a beleza e a alegria do espetáculo, depois vemos cores mais escuras, mostrando que nem tudo é o que parece. A direção de arte também faz um ótimo trabalho neste quesito ao mostrar as tendas do grupo, que são pequenas e construídas improvisadamente.
Como diretor, Selton Mello mostra um grande amadurecimento desde sua estreia. Se em Feliz Natal ele investia bastante em planos longos, em O Palhaço isso já não acontece, já que o número de personagens com o qual ele precisa se preocupar neste novo filme é maior do que antes. Mello consegue lidar muito bem com todos eles, desenvolvendo-os aos poucos, e dando aos personagens secundários a mesma atenção dedicada ao protagonista. Além disso, a sensibilidade que ele demonstra ajuda ainda mais no funcionamento da história.
O modo como o roteiro de Mello e Vindicatto trata o grupo de artistas é admirável. Durante boa parte do filme, eles aparecem juntos, seja para buscar ajuda para um mecânico ou quando são presos. Eles brincam e são compreensíveis uns com os outros. Em resumo, Benjamim e seus companheiros mostram ser uma bela família. Apesar de o momento deles não ser dos melhores, eles nunca mostram estar tristes. Isso fica ainda mais evidente na cena em que o grupo vai almoçar na casa de um prefeito. A família do circo é grande e pobre, enquanto a família do prefeito é pequena e rica. Mesmo com essas diferenças, as duas mostram ser felizes ao seu próprio modo. No entanto, os artistas ainda anseiam por uma melhora de vida, algo que reflete no próprio nome do circo (“Esperança”).
Uma das grandes forças de O Palhaço reside em seus personagens, a começar pelo protagonista. Interpretado por Selton Mello com uma expressão quase sempre séria, Benjamim conquista o espectador logo em sua primeira cena, quando mostra ser um palhaço divertidíssimo. Mas por trás da maquiagem, do nariz vermelho e das roupas xadrez, há um rapaz que não se preocupa só com os próprios problemas, mas também com os problemas do circo. E é quase impossível não gostar de Selton Mello, um dos atores mais talentosos e carismáticos da atualidade. Além disso, a química que ele demonstra com Paulo José é sensacional, resultando em uma das cenas mais emocionantes do filme. Aliás, o veterano ator tem uma grande atuação interpretando um homem que se importa com o bem-estar daqueles que estão a sua volta, não sendo intransigente quando o assunto é dinheiro.
O elenco secundário também mostra grande carisma, desde o mágico de Cadu Fávero até a menina Guilhermina interpretada por Larissa Manoela. E as participações especiais de figuras como Moacyr Franco, Tonico Pereira e Ferrugem deixam o filme ainda mais divertido graças ao ótimo timing cômico que eles mostram em suas rápidas cenas.
O Palhaço pode ser apenas o segundo longa-metragem dirigido por Selton Mello, mas ele já mostra ser merecedor de nossa atenção não só pelo seu grande talento na frente das câmeras, mas também por trás delas.
Cotação:

Um comentário:

Clenio disse...

Belo filme. Engraçado, terno e de uma simplicidade encantadora. Selton Mello está de parabéns.

Abraços
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com