(Comentário publicado durante a cobertura da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)
Aguardada cinebiografia do maestro e músico Leonard Bernstein dirigida por Bradley Cooper, Maestro segue a vida de Bernstein (vivido pelo próprio Cooper) ao longo de 50 anos, mostrando o sucesso dele desde cedo como condutor de grandes orquestras, sua sexualidade e seu casamento com Felicia Montealegre (Carey Mulligan).Como
ator, Bradley Cooper faz um bom trabalho encarnando a segurança de Leonard
Bernstein como artista, algo que só aumenta e se torna mais sutil com o passar
dos anos, sendo que o ator ainda mantém grande expressividade mesmo quando por
baixo de toda a excelente maquiagem que utiliza quando o personagem fica mais
velho. Já a ótima Carey Mulligan traz força e resiliência a Felicia, uma mulher
que se recusa a viver na sombra do marido mesmo quando isso parece inevitável.
E por mais conturbado que seja o casamento dos personagens, seus intérpretes conseguem
mostrar bem o afeto entre eles.
No
entanto, enquanto o roteiro escrito por Cooper e Josh Singer faz um belo
retrato da relação entre Bernstein e Montealegre, outras coisas parecem ser
jogadas na tela apenas para que o filme possa dizer que as incluiu, como o uso
de drogas por parte do protagonista e os namoros dele com outros homens (em
especial Tom Cothran), que mais parecem devaneios do que propriamente
relacionamentos. Este último quesito é até curioso considerando que o filme trata
a sexualidade de Leonard Bernstein abertamente, de forma que talvez tenha
faltado um pouco de coragem a Cooper e sua equipe para se aprofundar mais nesse
aspecto.
Já
na direção, há sacadas interessantes de Bradley Cooper. A lógica visual do
filme, por exemplo, é primorosa, iniciando com uma razão de aspecto 1.33:1 em
preto e branco, para então adicionar cores na segunda fase da vida do
protagonista e aumentando a razão de aspecto para o habitual 1.85:1 apenas
quando chega na fase final, o que sinaliza como uma passagem se soma a outra.
Além disso, Cooper é hábil ao usar uma maior profundidade de campo para
retratar o modo que Felicia fica, por vezes, relegada na vida do protagonista,
ao passo que planos mais longos trazem uma maior naturalidade a determinadas
cenas. Porém, há vários outros momentos em que Cooper parece apenas querer se
exibir, usando travellings que viajam pelos cenários e um extenso número de raccords
(transições de cena que mantêm a continuidade entre um plano e outro), recursos
que acabam chamando atenção demais para seu diretor.
Maestro
no fim se equilibra entre altos e baixos, conseguindo até ser eficaz como
filme, ainda que não tão brilhante como a figura que retrata na tela.
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