Em Fatman, o Papai Noel é conhecido
como Chris Cringle, sujeito que vive em uma fazenda com sua esposa, Ruth
(Marianne Jean-Baptiste), e mantém ali uma fábrica para fazer os brinquedos que
as crianças merecedoras ganham, um negócio que está indo de mal a pior. Enquanto
isso, o jovem Billy Wenan (Chance Hurstfield) acorda no Natal e vê que ganhou
de presente um pedaço de carvão, o que o faz querer se vingar do Papai Noel.
Para isso, ele contrata o Magrelo (Walton Goggins), um assassino profissional que
tem seus próprios ressentimentos com Chris.
A execução dos irmãos Eshom e Ian Elms, que escreveram o roteiro e dirigiram a produção, capricha ao explorar bem a ideia por trás da história, que por si só já é divertidamente absurda. Além de criarem uma lógica convincente para a existência do Papai Noel naquele universo, os cineastas conseguem equilibrar bem o tom da narrativa, que diverte com certos exageros, mas sem deixar de se levar a sério, rendendo ainda alguns momentos de genuína tensão, como no explosivo terceiro ato.
Mas o que me chamou mais atenção
em Fatman é que o filme faz essas coisas sem sacrificar o desenvolvimento
dos personagens. Assim, o ótimo Walton Goggins faz do Magrelo um indivíduo frio
e ameaçador, mas pontualmente tem chances de sugerir como o assassino se tornou
a pessoa que é agora, apontando para um passado repleto de tristezas que tridimensiona
o personagem. O mesmo serve para Billy, que o jovem Chance Hurstfield encarna
como um sociopata riquinho e mimado, mas aos poucos vemos que isso vem da completa
falta de autoridade em sua vida.
Mas o grande destaque fica mesmo para Mel Gibson. Exibindo seu carisma habitual, o ator faz de Chris Cringle uma figura bondosa, que faz sempre o melhor que pode e exibe um real afeto por seu trabalho e pelas pessoas ao seu redor. Mas ao mesmo tempo ele não deixa de se entregar a suas frustrações, que o desmotivam e ditam o rumo de suas ações. Assim, Gibson concebe um Papai Noel que pode até ter sua aura mágica (como vemos nas cenas em que ele mostra saber tudo sobre a vida das pessoas), mas se aproxima muito de ser um indivíduo comum (arrisco dizer que é uma das versões mais humanas que lembro de ver do Papai Noel, ao menos nos últimos anos). Para completar, Gibson ainda forma uma ótima dinâmica com a excelente Marianne Jean-Baptiste, cuja presença como Ruth surge sempre repleta de calor humano.
Assistir a Fatman acaba
sendo um verdadeiro deleite. E não consigo evitar de classificar o filme como
uma das boas surpresas de 2020.
Um comentário:
Cara, tu me deixou MUITO interessado nesse filme. Baita texto!
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