Como toda Arte, os games crescem
e evoluem de um jeito impressionante com o passar do tempo, e acompanhar isso tem
sido impressionante, ainda que hoje minha presença diante de um videogame não
seja tão assídua como era há alguns anos. Mas uma das famas que os jogos
lamentavelmente adquiriram é que, geralmente, não rendem grandes resultados ao
serem adaptados para o cinema. No entanto, atualmente existe alguma esperança
de que a sorte deles nesse sentido mudará em breve, não só por conta do
lançamento de Warcraft (que chega
esta semana aos cinemas), mas também de Assassin’s
Creed.
Se estes filmes conseguirão mudar
um pouco o paradigma só saberemos quando eles chegarem e mostrarem a quê vieram.
Mas enquanto isso não acontece, aproveito o momento para listar cinco adaptações
que contribuíram para a má fama e outras cinco que se revelaram bacanas ou ao
menos minimamente aceitáveis, já que realmente é difícil achar longas realmente
satisfatórios. Reparem que esta não é uma lista de “melhores e piores”
adaptações de games, mas sim algo um pouco mais simples e seletivo.
Começando pelas cinco porcarias
(em ordem de lançamento):
Super Mario Bros. (1993), de Rocky Morton e Annabel Jankel
Ver o universo de Super Mario World
ganhar vida nesse filme chega a ser triste, para dizer o mínimo. Acompanhando os
irmãos encanadores Mario e Luigi (interpretados por Bob Hoskins e John
Leguizamo), que se veem tendo que ir a outra dimensão para salvar a jovem Daisy
(Samantha Mathis) e impedir o Rei Koopa (Dennis Hopper) de mesclar seu mundo de
dinossauros humanoides com a Terra, Super
Mario Bros. se revela bobo e incrivelmente bizarro na forma como aborda seu
material de origem, cuja diversão e visual adorável acabam dando lugar a uma
narrativa feia e desinteressante em vários sentidos. Nem mesmo o elenco defende
a produção, com os saudosos Hoskins e Hopper tendo declarado publicamente seu
desgosto pelo filme.
Mortal Kombat: A Aniquilação
(Mortal Kombat: Annihilation, 1997), de John R. Leonetti
Não escondo o fato de que costumava
adorar os filmes de Mortal Kombat quando
criança (e sou fã declarado dos jogos). Mas assisti-los hoje infelizmente não
rende a mesma admiração, especialmente esta continuação, um sinônimo de
vergonha alheia. Começando de onde o primeiro filme havia parado, Mortal Kombat: A Aniquilação foca os
esforços de Liu Kang (Robin Shou) e seus amigos para salvar a Terra da ameaça
de Shao Khan (Brian Thompson), o imperador de Outworld que pretende juntar os
dois mundos dentro de seis dias (não lembra Super Mario Bros.?). No decorrer da trama, fica a impressão de uma
continuação feita às pressas para aproveitar o sucesso do filme anterior, o que
resulta em um desastre completo, desde os personagens até as cenas de luta,
chegando ao ápice da ruindade em uma batalha final que pode ser definida pelos
pavorosos efeitos visuais empregados nas animalidades (famoso golpe dos jogos
originais) de herói e vilão.
Alone in the Dark: O
Despertar do Mal (Alone in the Dark, 2005), de Uwe Boll
Quem conhece o trabalho de Uwe
Boll no comando de adaptações de games deve saber que essa pequena lista
poderia ser feita só com os filmes dele. Mas dessa vez vamos ficar só com Alone in the Dark. No filme, Christian
Slater é Edward Carnby, detetive que cuida de casos paranormais e que está à
procura de artefatos da antiga civilização Abkani, que desapareceu há milhares
de anos. Ao se deparar com estranhos acontecimentos, ele vê ligações não só com
os objetos que está investigando, mas também com seu passado misterioso no
orfanato onde cresceu. Com cenas de ação caóticas, um suspense tão risível quanto
as atuações do elenco (que, além de Slater, conta com Tara Reid e Stephen Dorff),
e um roteiro absurdamente bagunçado, Uwe Boll faz em Alone in the Dark uma receita para a perdição, e não à toa o filme
é considerado um dos piores da década passada.
Doom: A Porta do Inferno (Doom, 2005), de Andrzej Bartkowiak
O ano é 2046. Uma base de
pesquisas situada em Marte é duramente atacada. Atendendo ao pedido de socorro
de um dos cientistas, um grupo de fuzileiros liderado por Sarge (Dwayne
Johnson) vai até o local averiguar a situação e resgatar possíveis sobreviventes.
O que eles não esperavam era bater de frente com uma série de monstros
perigosos. A ideia quanto a como transformar Doom em filme é basicamente derivada
de Aliens: O Resgate. Mas as coisas
aqui ficam longe de ter a mesma qualidade do longa de James Cameron,
apresentando uma série de personagens desinteressantes, fracas cenas de ação e
ideias tolas (como o funcionamento de um certo cromossomo). Podemos até destacar
a sequência de ação com a câmera subjetiva, que referencia o estilo “tiro em
primeira pessoa” do game original, mas ela acaba servindo mais para lembrar que
o tempo seria melhor gasto jogando Doom do que vendo essa adaptação.
Hitman: Assassino 47
(Hitman, 2007), de Xavier Gens
Tendo no assassino profissional
conhecido apenas como Agente 47 um protagonista visualmente icônico com seu
terno, gravata vermelha e o código de barras na nuca, Hitman é um jogo inteligente
na forma como obriga o jogador a raciocinar que tipo de ação sutilmente violenta
ele deve fazer a fim de cumprir as missões. Quem dera o filme tivesse um pouco
dessa inteligência. O longa de Xavier Gens apenas pega o Agente 47 (vivido por
Timothy Olyphant) e o insere em um filme de ação banal, no qual o sujeito é
perseguido por todos os lados tanto pela Interpol quanto pela própria organização
para a qual trabalha, depois que uma de suas missões não sai como o esperado. O
resultado é uma obra insossa, que não consegue fazer nem com que seu
protagonista seja interessante (ainda que Olyphant seja um intérprete
esforçado). Um reboot foi lançado no ano passado com Rupert Friend no papel
principal, mas foi outro tropeço.
Ok, agora o lado mais
interessante, dentro do possível (em ordem de lançamento):
Lara Croft: Tomb Raider (2001), de Simon West
Levando para as telonas uma das
heroínas mais populares dos games, Lara
Croft: Tomb Raider segue os passos de aventuras como àquelas de Indiana
Jones ao acompanhar Lara Croft (Angelina Jolie) em uma disputa com os membros
do Illuminati, liderados por Manfred Powell (Iain Glen), com ambos os lados
procurando as peças do Triângulo da Luz, artefato que pode dar a seu dono o
poder de controlar o tempo e o espaço. Claro que o que vemos ao longo da
história não é tão instigante quanto os desafios de Indy, mas isso não chega a
impedir o filme de render alguma diversão, ao passo que Angelina Jolie surge eficiente
no papel principal. O sucesso nas bilheterias deu sinal verde para a
continuação Lara Croft: Tomb Raider – A Origem
da Vida, um grande fracasso que poderia ter entrado na lista anterior. Um
reboot está em desenvolvimento, com Alicia Vikander atualmente confirmada no
papel principal.
Final Fantasy (Final
Fantasy: The Spirits Within, 2001), de Hironobu Sakaguchi
Final Fantasy é um deleite para os olhos. Se apresentando como um
grande avanço nas técnicas de animação, o filme trouxe personagens humanos que,
por vezes, nem parecem ser os bonecos digitais que realmente são, tamanho o
realismo de seus traços. É algo que até compensa um pouco o roteiro, que
desenvolve uma história não tão interessante situada em 2065 e que foca uma
invasão alienígena. Em meio a isso, a cientista Aki Ross (voz de Ming-Na Wen) se
reúne a um grupo de soldados liderados por Gray Edwards (voz de Alec Baldwin)
para tentar encontrar os segredos da raça invasora e salvar a Terra. Ainda que
nisso o filme encontre obstáculos, é inevitável ficar envolvido com os
personagens e a humanidade deles, de forma que é difícil esquecer a produção
quando ela chega ao final. Uma pena que nas bilheterias o longa não tenha sido
muito agraciado, o que fez sua produtora Screen Pictures decidir não fazer mais
filmes.
Resident Evil: O Hospede Maldito (Resident Evil, 2002), de Paul W.S.
Anderson
Resident Evil é um jogo capaz de
dar angústia. Por um lado, é bacana seguir a história, solucionar os
quebra-cabeças pontuais e matar os zumbis. Mas por outro, a grande tensão vista
por ali dá vontade de largar o controle e voltar para a vida normal sem olhar
para trás. No que diz respeito a este primeiro filme da série, Paul W.S.
Anderson se esforça para criar uma atmosfera inquietante, não se saindo
particularmente bem com sustos baratos. Mas o longa funciona melhor quando
parte pra ação, principalmente por ter uma heroína convincente em Alice (Milla
Jovovich), detalhe que dá alguma agilidade a narrativa e desvia nossa atenção
quanto ao roteiro problemático, cuja história acompanha um grupo de agentes da
Umbrella Corporation tentando conter o T-vírus, que transformou em zumbis todos
os empregados de uma base subterrânea da companhia. As continuações vão de mal
a pior, mas, mesmo irregular, a série Resident
Evil é o maior sucesso comercial entre as adaptações de games, e no momento
está a caminho de um sexto filme.
Terror em Silent Hill
(Silent Hill, 2006), de Christophe Gans
Assim como Resident Evil, Silent
Hill é um jogo que mexe com os nervos, e o trabalho de Christophe Gans neste Terror em Silent Hill surpreende ao
recriar bem a tensão do material original. A trama segue Rose Da Silva (Radha
Mitchell), que decide levar sua filha adotiva, Sharon (Jodelle Ferland), até a
cidade-fantasma de Silent Hill, já que a garota vive mencionando o lugar em crises
de sonambulismo. Mas depois de um acidente, mãe e filha se perdem uma da outra,
e Rose passa a se ver em situações terríveis no local enquanto tenta encontrar
a pequena. Gans é hábil ao fazer com que esses momentos provem-se angustiantes
não só para a personagem, mas também para o público, de forma que é fácil criar
uma expectativa horripilante sempre que o alarme de Silent Hill toca, elemento
que precede cada situação. Claro que nem tudo é perfeito, e a subtrama
envolvendo o marido de Rose (interpretado por Sean Bean) é um exemplo de vácuo
na história, mas o filme ainda assim é eficiente naquilo que se propõe,
conseguindo ser envolvente, chocante e visualmente arrebatador.
Need for Speed: O
Filme (Need for Speed, 2014), de Scott Waugh
Need for Speed pode ter sido uma tentativa de criar algo que
rivalizasse com Velozes & Furiosos,
e é difícil não lembrar da franquia protagonizada por Vin Diesel quando se assiste
a esta adaptação do famoso game de corrida. Trazendo um Aaron Paul recém-saído
de Breaking Bad, o filme nos
apresenta a Tobey Marshall (Paul), que foi para a prisão após uma armação do
milionário Dino Brewster (Dominic Cooper) e agora sai em liberdade condicional
determinado a se vingar. Em meio a isso, nos deparamos com sequências de corrida/perseguição
que são marcas registradas do material original e trazem certa energia a
narrativa do filme, mesmo partindo para o absurdo em alguns momentos. A trama pouco
cativante e o vilão estúpido acabam sendo problemas incontornáveis, mas Need for Speed é uma obra que diverte,
além de ter em Aaron Paul um intérprete suficientemente carismático para que
torçamos por seu personagem.