Tendo despontado no final da
década de 1990 como um diretor promissor ao fazer a obra-prima O Sexto Sentido e logo depois o ótimo Corpo Fechado, M. Night Shyamalan lamentavelmente
não demorou para ficar totalmente em baixa, fazendo obras desastrosas como A Dama na Água e Fim dos Tempos, tornando-se um realizador que gera mais dúvidas e
desgosto do que admiração. Mesmo assim, por já ter mostrado que tem talento e
capacidade de realizar grandes filmes, é relativamente fácil entrar em seus
novos projetos torcendo para que ele tenha feito algo minimamente satisfatório.
Dito isso, em A Visita finalmente Shyamalan
volta a realizar um trabalho que funciona.

Não chega a ser um longa particularmente
criativo, tanto pela trama quanto pela maneira como utiliza o formato documental,
trazendo uma série de coisas comuns em obras do tipo, como a necessidade de
Becca de filmar até coisas que não serviriam para o documentário que pretende
realizar, mas que, claro, funcionam dentro do que Shyamalan precisa. Mesmo que
isso não faça muito sentido, não é um detalhe que incomode tanto considerando
que, do contrário, não teríamos um filme sobre o qual falar agora. No fim das
contas, o que acaba importando é que o diretor torna interessante sua proposta
de criar um ambiente gradualmente inquietante, no qual ele também busca divertir
o público através de bizarrices, como as atividades noturnas da avó dos
protagonistas, ou de besteiras, como a habilidade de Tyler como rapper. Shyamalan
consegue equilibrar esses aspectos da narrativa, de maneira que um não tira a
força do outro.
Mas talvez o mais surpreendente em A Visita é que o
roteiro escrito pelo próprio Shyamalan se revela bem estruturado, o que até compensa
um pouco alguns dos diálogos desnecessariamente expositivos. Sendo assim, é interessante
ver o diretor inserir pontualmente certos elementos para dar-lhes sentido mais
adiante, mostrando que ele tem alguma noção do que está fazendo, diferente do
que ocorria em seus últimos trabalhos. E se a reviravolta que acontece no
início do terceiro ato pode até ser previsível para olhos mais atentos, ao
menos a construção narrativa até ali é boa o suficiente para merecer elogios.
Enquanto isso, Olivia DeJonge e
Ed Oxenbould surgem carismáticos interpretando Becca e Tyler, exibindo ainda
uma boa dinâmica em cena, algo essencial para que formemos uma ligação com os
personagens e com a situação na qual eles se encontram. É uma pena, porém, que
certos traumas e fobias deles sejam trazidos por Shyamalan apenas quando necessário
para o roteiro, sendo desenvolvidos de maneira meio corriqueira. E se Kathryn
Hahn faz bem o papel da mãe deles mesmo tendo poucas cenas, Deanna Dunagan e
Peter McRobbie encarnam a estranheza e a doçura dos avós apropriadamente, indo
de um jeito para o outro naturalmente. Dunagan em particular prova ser capaz de
causar arrepios só com suas expressões maléficas.
A Visita fica longe de ser marcante como O Sexto Sentido ou Corpo
Fechado, mas só por não representar um novo desastre comandado por M. Night
Shyamalan já é um alívio, podendo indicar que o cineasta está voltando à boa
forma. Resta esperar que seu próximo projeto o mantenha nesse caminho.
Nota: