sábado, 6 de abril de 2013

Mama

Em 2008, o cineasta argentino Andrés Muschietti realizou Mamá, um curta-metragem de terror de baixo orçamento que consistia em apenas uma cena feita em plano-sequência (o filme tem cortes, mas são todos mascarados para passar a ideia de uma única tomada), que conseguia criar um belo ambiente de tensão ao longo de seus meros 3 minutos de duração. A pequena produção fez grande sucesso e chegou as mãos de Guillermo del Toro, que agora produz este Mama, a versão em longa-metragem dirigida pelo próprio Andrés Muschietti.
Escrito por Neil Cross em parceria com o diretor e sua irmã, Barbara Muchietti, Mama mostra as pequenas Victoria e Lily (Michelle Charpentier e Isabelle Nélisse, respectivamente), que ficam sob os cuidados de seu tio, Luke (Nicolaj Coster-Waldau), e da namorada dele, Annabel (Jessica Chastain), após serem encontradas em uma floresta cinco anos depois de terem desaparecido com seu pai. O problema é que durante esse tempo as meninas ficaram extremamente ligadas a uma figura conhecida como Mama, que acaba vindo ao novo lar delas e assombra Luke e Annabel, que passam a tentar descobrir o que realmente esta acontecendo.
Não é muito fácil pegar uma história que funciona muito bem em um curta e acrescentar elementos a ponto de transformá-la em um longa que seja igualmente interessante (recentemente, Tim Burton não conseguiu fazer grandes coisas em Frankenweenie). No entanto, Andrés Muschietti tem a vantagem de seu filme original não ter uma história para seguir, sendo uma única sequência de terror bem realizada, e que inclusive volta nessa nova versão de maneira não menos envolvente com algumas pequenas mudanças. Sendo assim, vale dizer que a história criada no roteiro prende a atenção para que acompanhemos o desenrolar de tudo o que acontece e fiquemos curiosos com relação ao destino dos personagens.
Mas quando tenta assustar, Muschietti investe muito na velha cartilha de usar efeitos sonoros para fazer o público pular nas cadeiras do cinema (quase todas as aparições de Mama, por exemplo, surgem dessa forma), o que acaba se tornando algo aborrecido depois de um tempo. Além disso, em alguns momentos os sustos ficam um tanto previsíveis (como quando um personagem está no fundo do quadro e de repente aparece mais a frente), o que tira um pouco do impacto das cenas. No entanto, o diretor é bem sucedido ao construir uma atmosfera de tensão incômoda que funciona com eficiência ao longo da narrativa (boa parte disso se deve a Mama), algo que ganha a contribuição da fotografia sombria de Antonio Riestra.
Apesar da boa história, o roteiro ainda tem seus problemas. As duas sequências de sonho que surgem ao longo da projeção, e que colocam os protagonistas na direção do que ocorre no terceiro ato da trama, são extremamente forçadas, dando a entender que os roteiristas tiveram preguiça em fazer os personagens chegarem de maneira mais natural a suas descobertas. Sem falar que elas não têm muita lógica, já que é muito difícil acreditar que dessa forma Luke receba uma pista sobre um determinado local e que a Mama revele algo importante para Annabel, além de serem desculpas para tentar incluir alguns sustos bobos e desnecessários. Enquanto isso, a atenção dada a banda de rock de Annabel é tão pouca que isso poderia muito bem ser cortado da história sem causar danos a narrativa, assim como a subtrama envolvendo uma tia das meninas (interpretada por Jane Moffat) que acredita estar muito mais apta a cuidar delas do que o casal principal.
Quanto ao elenco, a bela e talentosa Jessica Chastain (exibindo um visual completamente diferente do que mostrou até então) não chega a convencer como uma jovem roqueira, mas se sai muito melhor quando o roteiro passa a se concentrar no crescimento de Annabel como uma figura materna, algo que a personagem evita ao máximo inicialmente. Já Nicolaj Coster-Waldau faz de Luke um personagem carismático, muito diferente do Jaime Lannister que o ator interpreta na série Game of Thrones. Enquanto isso, as pequenas Michelle Charpentier e Isabelle Nélisse se saem relativamente bem nos papéis de Victoria e Lily, surgindo apropriadamente sinistras.
Mama pode não ser um filme memorável ou tão bom quanto o curta original, mas pelo menos consegue ser interessante o bastante para não ser uma dessas aborrecidas produções de terror.
Cotação:

2 comentários:

Hugo disse...

Não vi o curta, mas estou curioso para fazer esta nova versão.

Abraço

G R Machado disse...

Discordo somente quando tu falou que a Isabelle Nélisse saiu relativamente bem como Lily... Pra mim, ela foi a melhor atriz do filme!!!
As cenas em que ela sorri fraternalmente para a criatura monstruosa que é Mama ou quando está brincando dentro das caixas de papelão.. dentre praticamente todas as outras cenas dela.. nos fazem ver o quão natural e à vontade ela devia estar nos sets...
Isabelle Nélisse é uma atriz que devemos abrir nossos olhos na sua carreira no cinema!!!