domingo, 8 de setembro de 2024

Os Fantasmas Ainda Se Divertem

“Se não há muita criatividade, então apostemos naquilo que já deu certo uma vez, aproveitando para investir em nostalgia”.

Creio que principalmente na última década esse pensamento tem sido o condutor dos estúdios na hora de dar sinal verde para algumas de suas principais produções. E assim nos vimos retornando ao universo de franquias como Jurassic Park, Caça-Fantasmas e Star Wars ou a grandes sucessos de bilheteria como Independence Day, Top Gun e mais recentemente Twister, todos com resultados altos e baixos. E é nessa onda que temos agora este Os Fantasmas Ainda Se Divertem, que nos faz retornar universo do clássico de Tim Burton.

Com Burton de volta na direção, essa continuação mostra que Lydia Deetz (Winona Ryder) agora utiliza seus talentos de mediunidade em seu programa de TV sobre casas mal-assombradas. Mas após o falecimento de seu pai, Charles (interpretado por Jeffrey Jones no primeiro filme e que aqui surge em breves participações que não precisaram do ator), Lydia volta a antiga casa em Winter River junto com sua madrasta Delia (Catherine O’Hara) e sua filha cética e rebelde Astrid (Jenna Ortega). É então que uma série de eventos faz elas retomarem contato com o universo da vida após a morte, e claro que o desagradável Beetlejuice (Michael Keaton) quer aproveitar o momento ao máximo.

É principalmente essa série de eventos que faz com que Os Fantasmas Ainda Se Divertem acabe encontrando problemas no desenvolvimento da narrativa. Afinal, o filme acaba não conseguindo ser tão interessante quando vemos o roteiro perder tempo com subtramas e personagens que, além de desperdiçarem o talento de seus intérpretes, também nunca conseguem justificar sua presença. É o caso de Willem Dafoe e Monica Belucci, que parecem bastante perdidos no meio da história. O roteiro pula de um ponto da trama a outro sem qualquer organização, trazendo ainda soluções e dinâmicas já utilizadas no filme original, o que até pode ser uma sinalização para momentos nostálgicos, mas também não deixa de exibir um pouco de preguiça dos realizadores para bolar coisas diferentes.


Ainda assim, o longa tem bons momentos que o tornam uma experiência agradável. A sequência em que vemos uma personagem “se montar” é surpreendentemente divertida, assim como é bacana ver Tim Burton brincar (ainda que brevemente) com outras técnicas e visuais, o que vemos em uma sequência de animação e em outra em preto e branco que lembra os terrores italianos de Mario Bava, que tanto influenciam o diretor. Mas é claro que a maior parte da diversão do filme está no retorno de Michael Keaton ao papel de Beetlejuice, que continua sendo uma figura que arranca risos com facilidade. Keaton encarna com naturalidade a energia de trem desgovernado que do personagem, e seu carisma e irreverência mais uma vez nos impede de achar Beetlejuice um ser totalmente deplorável.

Ao final de Os Fantasmas Ainda Se Divertem, fica a impressão de que a produção com certeza se beneficiaria muito de um roteiro melhor amarrado, que conseguisse aproveitar mais o potencial de algumas de suas ideias. Mas o universo com o qual Tim Burton trabalha aqui ainda se mostra capaz de render uma boa diversão.


Nota:



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