Após se livrar de seus captores
graças a ajuda de seu velho sócio Walter White (Bryan Cranston), Jesse Pinkman
(Aaron Paul) desbrava pela estrada em um veículo El Camino, vibrando e acelerando
loucamente em meio a escuridão da noite, partindo rumo a um futuro que, apesar
de não ser bem definido, imaginamos que será melhor para ele. Tratava-se de um
final digno para o personagem, que chegava ao último episódio da fantástica Breaking
Bad (melhor série que já tive o prazer de assistir) como a maior vítima de
Walter (ou melhor, Heisenberg). E mesmo que Jesse estivesse longe de ser um
santo, ainda era um personagem que víamos como essencialmente bom.
Pois bem, eis que agora estamos
diante de El Camino, filme escrito e dirigido pelo próprio criador de Breaking
Bad, Vince Gilligan, e que dá continuidade a história de Jesse, contando o
que aconteceu com ele logo depois de sua fuga. É então que passamos a
acompanhar o rapaz em um plano para recomeçar sua vida, o que não é nada fácil
quando se é um foragido.
El Camino traz basicamente
tudo o que fazia de Breaking Bad uma série tão fascinante. Sendo assim,
a lógica visual empregada por Vince Gilligan continua àquela que havia sido estabelecida
na série, desde o uso de cores até os raccords (cortes que mantêm a
continuidade entre um plano e outro) inseridos pontualmente na excelente
montagem de Skip Macdonald. É bacana, por exemplo, ver que o local para onde
Jesse deseja ir é banhado por uma fotografia mais propensa ao azul, cor que Gilligan
nos acostumou a conectar automaticamente a uma certa pureza, e que tanto surgia
nas roupas usadas por Skyler White (então interpretada por Anna Gunn). Além
disso, Gilligan é hábil ao conceber cenas angustiantes e que colocam à prova a
torcida do público pelo protagonista, como quando ele se vê tendo que se
esconder de alguma ameaça, o que ocorre com certa frequência ao longo do filme.
Mas é impossível não destacar em meio a isso o duelo que ocorre no terceiro
ato, que encanta por sua tensão e pela linguagem de faroeste imposta pelo
diretor.
Enquanto isso, Aaron Paul volta
ao papel de Jesse com o imenso talento que já exibia em Breaking Bad.
Quando o personagem surge em um flashback ao lado de Heisenberg, podemos
ver o quanto ele mudou ao longo da série até chegar em El Camino, algo
muito bem ilustrado pelo ator. O jovem irresponsável e cheio de vida deu lugar
a uma figura comedida e traumatizada, cujas cicatrizes físicas refletem também
as cicatrizes emocionais que acumulou ao longo do tempo. Trata-se de um
trabalho primoroso de um intérprete que, obviamente, conhece seu personagem
como a palma de sua mão.
El Camino não deixa de ser
uma produção desnecessária, considerando que dá continuidade a algo que já
havia sido muito bem finalizado. Mas fico feliz que Vince Gilligan tenha levado
o projeto adiante, dando um final ainda mais belo e redentor a um personagem merecedor
de algo assim.
Nota: