Há filmes que parecem ser feitos
sob medida para tentar agradar o público. O problema é que muitas produções que
buscam fazer isso se arriscam pouco, resultando em trabalhos genéricos e com convenções
que o espectador já está cansado de ver. O
Juiz, infelizmente, segue essa linha, o que piora se considerarmos o fato
de ele até subestimar a inteligência do público, desperdiçando o elenco
talentoso no processo.

“Protagonista precisa voltar para
sua cidade-natal por algum motivo e é obrigado a enfrentar os demônios do
passado”. É uma história que já foi contada várias vezes e ainda é capaz de
render belos filmes. Mas O Juiz a
segue de forma tão clichê que é possível prever boa parte das coisas que
acontecem ao longo da narrativa antes de fechar a primeira hora de projeção, o
que é grave principalmente se levarmos em conta que o filme tem 140 minutos de
duração. Até por isso é irritante que o roteiro enrole muito a história
com subtramas bobas (como aquela envolvendo Carla, a filha de Samantha vivida
por Leighton Meester) e personagens que não têm relevância para a trama (o
advogado C.P. Kennedy, interpretado Dax Shepard). Além disso, é impressionante
como o desenvolvimento da trama é esquemático com relação a alguns elementos. Quando
ficamos sabendo que um personagem está doente, por exemplo, isso é jogado forçadamente,
já que ele não dá sinais disso. Sinais estes que, é claro, aparecem a partir do
momento em que alguém diz que a doença se agravou.
Com um roteiro tão fraco, não é
surpresa constatar que tudo é conduzido sem imaginação por David Dobkin (o
mesmo de Penetras Bons de Bico), que
investe em detalhes óbvios, como o plano em que vemos Hank e Joseph irem para
lados contrários depois de uma briga, e não consegue impedir que o filme caia
no melodrama, seja em cenas mais sentimentais ou nas grandes discussões entre
os personagens (o terceiro ato chega a ser triste de se acompanhar nesse
sentido). Como se não bastasse, Dobkin ainda tem como diretor de fotografia um
Janusz Kaminski afetado demais, que joga uma luz forte na tela para criar uma
espécie de aura em volta dos personagens, mas faz ela se destacar mais do que
qualquer outra coisa, o que não ajuda a narrativa em nada. No entanto, Dobkin
merece créditos por ao menos fazer com que certos momentos de humor funcionem,
e nisso o destaque fica por conta da cena em que Hank escolhe o júri que
participará do julgamento de seu pai.
Todos os problemas são ainda mais
lamentáveis quando se tem em mãos um elenco tão bom, que torna os personagens
simpáticos o bastante que o filme não fique entediante. A começar por Robert
Downey Jr., que tem em Hank um papel que aproveita seu tipo arrogante, mas
carismático, o que torna difícil não gostar dele mesmo quando não concordamos
com seus atos. Já o veterano Robert Duvall impõe a autoridade de Joseph com
naturalidade, além de encarnar eficientemente o cansaço e a confusão que o
personagem sente pontualmente. Pra fechar, apesar de não serem tão bem
aproveitados, Vera Farmiga, Vincent D’Onofrio, Billy Bob Thornton e Jeremy
Strong têm presenças interessantes em papeis menores.
No fim, O Juiz é um filme que pensa ser grande coisa, e toda essa pretensão
apenas contribui para torna-lo decepcionante. E é uma pena ver tantos bons
nomes envolvidos em um projeto tão sem graça.
Nota:
2 comentários:
Ansioso para ver os dois Roberts. Acho que posso me impressionar com ambos.
Um desperdicio de filme, uma tentativa fraquissíma de incrementar em um roteiro parecido com "Album de família"! Melodramático! Péssima direção, com cenas clichês e desnecessárias (A cadeira no final, os dois andando em direção contrária, o furacão que não serviu para nada!), Nenhum, mas nenhum conhecimento de como é um julgamento... a hora em que eles falam sobre a própria vida no tribunal por uns 4 minutos, como se isso fosse aceitável... Falha como drama, mas o que incomoda mesmo são as escolhas da direção... Risível
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