quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Espetacular Homem-Aranha

Mesmo com seus superpoderes, é admirável ver que o Homem-Aranha sempre foi um personagem que enfrenta problemas muito humanos, como não ter muito dinheiro para pagar o aluguel, e este é um dos motivos de ele ser o meu super-herói favorito dos quadrinhos. Há dez anos, o primeiro filme do personagem chegava às telonas, praticamente consolidando as adaptações de histórias em quadrinhos como um gênero. De lá pra cá, houve adaptações desse tipo em todos os anos, e os estúdios passaram a dar uma atenção mais do que especial a estes filmes. Se Sam Raimi continuou muito bem sua história do aracnídeo da Marvel no excelente Homem-Aranha 2, é triste constatar que em Homem-Aranha 3 ele tenha finalizado sua trilogia de maneira tão decepcionante.
Dito isso, um reboot como O Espetacular Homem-Aranha soa precoce demais. Afinal, há apenas cinco anos de diferença entre o terceiro filme de Raimi e este exemplar dirigido por Marc Webb. Esta nova produção chama a atenção por mostrar um lado diferente das histórias do personagem, apesar de estar mostrando algo que já vimos boa parte há dez anos. Mas é bom ver que ela ainda consegue ser eficiente, não ficando preocupada apenas com cenas de ação ou com a introdução de novos vilões, apresentando muito bem o novo universo pelo qual o cabeça-de-teia transitará nos cinemas.
Escrito por James Vanderbilt, Alvin Sargent (de volta depois de Homem-Aranha 2 e Homem-Aranha 3) e Steve Kloves, O Espetacular Homem-Aranha mostra o início das aventuras de Peter Parker (Andrew Garfield) como Homem-Aranha. Deixado por seus pais, Richard e Mary (Campbell Scott e Embeth Davidtz) na segurança de seus tios Ben e May (Martin Sheen e Sally Field), Peter cresce (ganhando então o rosto de Andrew Garfield) sem saber o porquê de eles terem desaparecido. Durante uma investigação, Peter é mordido por uma aranha e... bem, o resto todos já sabem mais ou menos como se desenrola. Enquanto isso, ele tenta ajudar o Dr. Curt Connors (Rhys Ifans), um antigo colega de seu pai, a completar uma fórmula que pode curar as pessoas de qualquer deficiência, a ponto de poderem regenerar partes do corpo.
O roteiro peca com relação a esse mistério envolvendo os pais de Peter. É algo que praticamente não é explorado, sendo usado muito mais para encaminhar o personagem até a aranha que lhe dará os poderes e também para coloca-lo frente a frente com Curt Connors. Provavelmente isso ganhará um pouco mais de foco nos próximos filmes, mas poderia ser um pouco mais resolvido aqui. Afinal, a ausência dos pais é algo que fez muita falta para Peter e há várias cenas que comprovam isso.
Logo no início, o filme demonstra ter como objetivo mostrar um Peter Parker mais cool. Ele é tímido e tudo mais, mas não hesita em brincar com o que o diretor da escola diz ou defender um colega. E ele ainda anda de skate e brinca no celular, o que é até estranho comparado com o que havia sido mostrado nos filmes de Sam Raimi. Como a história é inteiramente situada nos tempos de escola, atmosfera de O Espetacular Homem-Aranha se torna muito mais teen do que a dos outros filmes.
Marc Webb (que fez o excelente 500 Dias Com Ela) dirige alguns momentos-chave do filme meio displicentemente, como a picada da aranha e a morte de um determinado personagem. Isso tira um pouco do impacto que esses momentos deveriam ter no filme. Por um lado, essa pode ter sido uma forma de o diretor dizer que sabe que está contando uma história que praticamente todo mundo conhece, mas de qualquer forma isso não justifica a irregularidade dessas cenas. Por outro, ao não dar muita ênfase nessas cenas e agilizar o desenrolar da história, Webb consegue abrir um pouco mais de espaço para se concentrar nos personagens.
E esses personagens tornam a história ainda mais interessante, e como eles têm intérpretes afinados no elenco, as coisas ficam ainda melhores. A começar pelo protagonista, um jovem inteligentíssimo e corajoso, capaz de desafiar mesmo quem não deveria. Em nenhum momento se sente falta de Tobey Maguire, já que Andrew Garfield tem uma atuação bastante segura e eficiente, mostrando estar muito confortável no papel. Ele faz de Peter um rapaz atrapalhado (sua gagueira quando o personagem fica nervoso não é forçada) e tímido (o jeito encurvado como anda deixa isso claro), além de muito carismático e bem humorado. E o fato de Marc Webb prestar atenção às consequências das lutas em que o Homem-Aranha se mete, como hematomas e arranhões, é algo que torna o personagem vulnerável e humano, compensando um pouco a falta de problemas como aqueles que citei inicialmente.
Já Emma Stone empresta seu carisma habitual para Gwen Stacy, nos fazendo esquecer completamente o modo como a personagem foi tratada em Homem-Aranha 3 (o que não seria muito difícil de fazer, diga-se de passagem). Em momento algum Gwen se torna uma mocinha em perigo, sendo uma espécie de calor humano para o herói. E a química entre ela e Garfield é ótima, resultando em bons momentos. Enquanto isso, Rhys Ifans consegue se destacar como Curt Connors, um vilão com motivações parecidas com as do Dr. Otto Octavius, vivido por Alfred Molina em Homem-Aranha 2. Ambos os personagens têm uma ideia com o objetivo de ajudar as pessoas de alguma maneira, mas mal sabem que podem trazer consequências destruidoras.
Quanto ao resto do elenco, Martin Sheen aproveita ao máximo suas cenas, conseguindo fazer de Ben Parker uma figura querida e um pai ideal para Peter. Uma pena que o roteiro resolva deixar isso ainda mais claro ao incluir uma cena em que o protagonista diz ao tio “Você é um ótimo pai”, o que só martela o óbvio. E se Sally Field aparece um pouco apagada como a tia May, Denis Leary interpreta o Capitão Stacy com grande seriedade, sendo este um personagem que compensa a ausência de J. Jonah Jameson.
No quesito ação, Marc Webb se sai admiravelmente bem. Não investindo na fórmula “dez cortes por segundo”, o diretor deixa o espectador a par de toda a ação que acontece na tela. Além disso, Webb explora bem as habilidades tanto do Homem-Aranha quanto do Lagarto, o que resulta em boas cenas de luta. Tudo isso é muito bem embalado pela trilha sonora de James Horner, apesar de esta não ser muito marcante. O Espetacular Homem-Aranha ainda traz o famoso bom humor do personagem, e nesse sentido o roteiro acerta na maioria de suas tentativas de fazer rir e as gags surgem naturalmente. As brincadeiras que o herói faz com alguns capangas que aparecem em seu caminho são interessantes, principalmente aquela envolvendo um ladrão de carros. Mas certamente a gag que todos lembrarão é a que envolve uma figura carimbada em quase todos os filmes da Marvel.
Caindo um pouco em um desnecessário melodrama adolescente no terceiro ato, O Espetacular Homem-Aranha não chega a fazer jus ao seu título, mas consegue ser um filme de origem eficiente, ainda que essa origem já tenha sido contada há pouco tempo. O universo do personagem ainda pode render várias histórias interessantes. Caberá aos próximos filmes encontrá-las.
Obs.: Há uma cena durante os créditos finais.
Obs. 2: Apesar de o filme ter sido filmado em 3D, Marc Webb não soube utilizar a tecnologia muito bem. Infelizmente, o resultado não difere muito das conversões, portanto não há diferença entre ver o filme em 2D ou em 3D.
Cotação:

2 comentários:

Pedro Vinícius disse...

Essa trama envolvendo os pais de Peter me incomodou um pouco... pois pode acabar ofuscando o papel de extrema importância dos tios. Acho que eles também perceberam isso; o que explica a inclusão da frase "Você é um ótimo pai"... porém, dessa forma acaba soando forçado.
Apesar do pouco tempo de Sally Field nas telas, gostei bastante da atriz como Tia May, já que toda a essência da versão Ultimate da personagem está ali.
As motivações de Connors são, de fato, parecidas com as de Octavius, mas há um abismo gingante entre os dois vilões. Acho o personagem de Alfred Molina muito mais bem explorado... enquanto o Lagarto tornou-se um vilão genérico, encaixado em uma trama inacabada.
Bem destacado: A trilha decepciona! Principalmente se comparada à dos filmes de Raimi, que era sensacional.
Não acho que o terceiro ato foi um melodrama desnecessário: após o clímax era fundamental uma interação entre o casal protagonista ou teríamos mais um elemento em aberto.
Parabéns pela crítica... elaborou muitos aspectos!
Aproveito para deixar o link da minha:
http://dimensaocinema.blogspot.com.br/2012/07/o-espetacular-homem-aranha.html#more
Abraço.

Película Criativa disse...

Curiosa para ver Andrew Garfield nesse papel.

Parabéns pelo blog, já estou seguindo :)

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