segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Oscar 2011
Na premiação que tive o prazer de comentar com minha grande amiga Graziele Moraes, os apresentadores James Franco e Anne Hathaway esbanjaram carisma e O Discurso do Rei foi eleito melhor filme do ano. Escolha decepcionante, sem dúvida alguma.
Como já falei na postagem anterior, O Discurso do Rei é inferior a vários concorrentes. No total, o filme levou quatro prêmios: Filme, Direção (Tom Hooper), Ator (Colin Firth) e Roteiro Original. Destes quatro, mereceu apenas Melhor Ator, já que Colin Firth está muito bem no papel do rei George VI.
A Origem também levou quatro prêmios, todos em categorias técnicas. A Rede Social veio logo atrás com três estatuetas, entre elas a de Roteiro Adaptado para o sempre ótimo Aaron Sorkin.
A cerimônia teve grandes momentos. A montagem de abertura, na qual Anne Hathaway e James Franco “entraram” nos dez filmes indicados na categoria principal, foi ótima. Outro momento de destaque foi quando o grande Kirk Douglas apresentou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, conquistado por Melissa Leo, de O Vencedor.
Confira abaixo a lista completa de vencedores e indicados da noite: (os vencedores têm uma estrela no lado)
Melhor Filme
Cisne Negro
O Vencedor
A Origem
Minhas Mães e Meu Pai
O Discurso do Rei*
127 Horas
A Rede Social
Toy Story 3
Bravura Indômita
Inverno da Alma
Melhor Direção
Darren Aronofsky, Cisne Negro
David Fincher, A Rede Social
Tom Hooper, O Discurso do Rei*
David O. Russell, O Vencedor
Joel & Ethan Coen, Bravura Indômita
Melhor Ator
Javier Bardem, Biutiful
Colin Firth, O Discurso do Rei*
James Franco, 127 Horas
Jesse Eisenberg, A Rede Social
Jeff Bridges, Bravura Indômita
Melhor Ator Coadjuvante
Christian Bale, O Vencedor*
John Hawkes, Inverno da Alma
Mark Ruffalo, Minhas Mães e Meu Pai
Geoffrey Rush, O Discurso do Rei
Jeremy Renner, Atração Perigosa
Melhor Atriz
Annette Bening, Minhas Mães e Meu Pai
Nicole Kidman, Reencontrando a Felicidade
Jennifer Lawrence, Inverno da Alma
Natalie Portman, Cisne Negro*
Michelle Williams, Namorados para Sempre
Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams, O Vencedor
Helena Bonham-Carter, O Discurso do Rei
Melissa Leo, O Vencedor*
Hailee Steinfeld, Bravura Indômita
Jacki Weaver, Reino Animal
Melhor Filme Estrangeiro
Biutiful (México)
Dogtooth (Grécia)
Em Um Mundo Melhor (Dinamarca)*
Incêndios (Canadá)
Fora da Lei (Algéria)
Melhor Roteiro Original
Christopher Nolan, A Origem
David Seidler, O Discurso do Rei*
Mike Leigh, Another Year
Scott Silver, Paul Tamasy, Eric Johnson e Keith Dorrington, O Vencedor
Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg, Minhas Mães e Meu Pai
Melhor Roteiro Adaptado
Aaron Sorkin, A Rede Social*
Joel e Ethan Coen, Bravura Indômita
Danny Boyle e Simon Beaufoy, 127 Horas
Debra Granik, Anne Rosellini, Inverno da Alma
Michael Arndt, John Lasseter, Andrew Stanton e Lee Unkrich, Toy Story 3
Melhor Filme de Animação
Como Treinar o Seu Dragão
O Mágico
Toy Story 3*
Melhor Fotografia
Cisne Negro, Matthew Libatique
A Origem, Wally Pfister*
O Discurso do Rei, Danny Cohen
Bravura Indômita, Roger Deakins
A Rede Social, Jeff Cronenweth
Melhor Documentário
Exit Through the Gift Shop - Banksy, Jaimie D'Cruz
GasLand - Josh Fox, Trish Adlesic
Trabalho Interno - Charles Ferguson, Audrey Marrs*
Restrepo - Tim Hetherington, Sebastian Junger
Lixo Extraordinário - Lucy Walker, Angus Aynsley
Melhor Montagem
Cisne Negro, Andrew Wesiblum
O Vencedor, Pamela Martin
O Discurso do Rei, Tariq-Anwar
127 Horas, Jon Harris
A Rede Social, Angus Wall e Kirk Baxter*
Melhor Trilha Sonora
Como Treinar o Seu Dragão, John Powell
A Origem, Hans Zimmer
O Discurso do Rei, Alexandre Desplat
127 Horas, A.R. Rahman
A Rede Social, Trent Reznor e Atticus Ross*
Melhor Direção de Arte
Alice no País das Maravilhas - Robert Stromberg e Karen O'Hara*
Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 - Stuart Craig e Stephenie McMillan
A Origem - Guy Hendrix Dyas, Larry Dias e Doug Mowat
O Discurso do Rei - Eve Stewart e Judy Farr
Bravura Indômita - Jess Gonchor e Nancy Haigh
Melhor Figurino
Alice no País das Maravilhas, Colleen Atwood*
I Am Love, Antonella Cannarozzi
O Discurso do Rei, Jenny Beavan
A Tempestade, Sandy Powell
Bravura Indômita, Mary Zophres
Melhor Maquiagem
Minha Versão Para o Amor, Adrien Morot
The Way Back, Edouard F. Henriques, Gregory Funk e Yolanda Toussieng
O Lobisomem, Rick Baker e Dave Elsey*
Melhor Canção
"Coming Home", Country Strong
"I See The Light", Enrolados
"If I Rise", 127 Horas
"We Belong Together", Toy Story 3*
Melhor Edição de Som
A Origem, Richard King*
Toy Story 3, Tom Myers e Michael Silvers
Tron - O Legado, Gwendolyn Yates Whittle e Addison Teague
Bravura Indômita, Skip Lievsay e Craig Berkey
Incontrolável, Mark P. Stoeckinger
Melhor Mixagem de Som
A Origem, Lora Hirschberg, Gary A. Rizzo e Ed Novick*
O Discurso do Rei, Paul Hamblin, Martin Jensen e John Midgley
Salt, Jeffrey J. Haboush, Greg P. Russell, Scott Millan and William Sarokin
A Rede Social, Ren Klyce, David Parker, Michael Semanick and Mark Weingarten
Bravura Indômita, Skip Lievsay, Craig Berkey, Greg Orloff and Peter F. Kurland
Efeitos Visuais
Alice no País das Maravilhas, Ken Ralston, David Schaub, Carey Villegas e Sean Phillips
Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 1, Tim Burke, John Richardson, Christian Manz e Nicolas Aithadi
A Origem, Paul Franklin, Chris Corbould, Andrew Lockley e Peter Bebb*
Homem de Ferro 2, Janek Sirrs, Ben Snow, Ged Wright and Daniel Sudick
Além da Vida, Michael Owens, Bryan Grill, Stephan Trojanski e Joe Farrell
Melhor Curta-Metragem
The Confession
The Crush
God Of Love*
Na Wewe
Wish 143
Melhor Curta Animado
Day & Night
The Gruffalo
Let´s Pollut
The Lost Thing*
Madagascar
Esperemos que em 2012 a Academia premie um filme espetacular, porque em 2011 isso não aconteceu.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Meus palpites e meus favoritos ao Oscar 2011
Depois de ter assistido aos dez filmes indicados a Melhor Filme (Minhas Mães e Meu Pai foi visto hoje à tarde), resolvi fazer esta postagem para dizer quais são os meus palpites e os meus favoritos nas principais categorias.
Melhor Filme:
A Origem continua imbatível para mim. Nas últimas semanas, O Discurso do Rei tomou o posto de grande favorito ao prêmio, que até então pertencia ao ótimo A Rede Social. Isso me decepciona muito porque o filme é inferior não só em relação a A Origem e A Rede Social, mas também a 127 Horas, Bravura Indômita, Inverno da Alma, Cisne Negro e Toy Story 3. Só bate de frente com O Vencedor e é melhor que Minhas Mães e Meu Pai, que é o filme que menos gostei entre os indicados.
Melhor Direção:
Christopher Nolan não está indicado. Portanto, torço para Darren Aronofsky, David Fincher (segundo favorito ao prêmio) e os Irmãos Coen. Vou ficar feliz com a vitória de qualquer um deles. Não porque são alguns dos meus diretores favoritos, mas porque seus trabalhos foram excelentes, diferente de Tom Hooper (o grande favorito ao prêmio) e David O. Russell que fizeram apenas bons trabalhos.
Melhor Ator:
Colin Firth está demais em O Discurso do Rei, e vai ganhar o prêmio. Mas meu favorito é James Franco. Sua atuação em 127 Horas é magnífica, provando que este é um ator que ainda vai fazer muito barulho.
Melhor Atriz:
Natalie Portman é a grande favorita de todos. Sua atuação em Cisne Negro é incrível e se não for premiada na noite do dia 27, então a Academia vai precisar rever vários de seus conceitos na hora de votar.
Melhor Ator Coadjuvante:
Christian Bale está perfeito em O Vencedor. Ele já ganhou o Globo de Ouro e o SAG, e deve ganhar o Oscar. Geoffrey Rush é o único ator que ameaça tirar a estatueta das mãos dele.
Melhor Atriz Coadjuvante:
Esta categoria ainda não tem uma favorita absoluta. Melissa Leo ganhou o Globo de Ouro e o SAG, mas está fazendo campanha para ganhar o Oscar, algo que está sendo mal visto pelos seus colegas. Helena Bonham-Carter ganhou o BAFTA, mas muito mais porque os britânicos favorecem os britânicos. Sendo assim, podemos ter uma zebra nesta categoria, e eu adoraria que fosse a minha favorita. O nome dela: Hailee Steinfeld. A garota me conquistou desde sua primeira cena em Bravura Indômita e merece muito ganhar o Oscar.
Melhor Roteiro Original:
Christopher Nolan deveria ganhar pelo menos este prêmio. Ele já venceu o Writers Guild Awards nesta categoria, e é considerado o grande favorito ao Oscar. Nenhum dos outros indicados construiu um roteiro tão bom quanto o de A Origem. NENHUM. O único roteiro que eu colocaria no mesmo patamar de A Origem é o de Cisne Negro, que nem foi indicado.
Melhor Roteiro Adaptado:
O favorito desta categoria é também o meu favorito. Aaron Sorkin fez um ótimo trabalho em A Rede Social. Eu vivo dizendo isso mas vou repetir: ele é um dos melhores roteiristas em atividade, e merece um Oscar desde Questão de Honra. Chegou a hora dele. Se por acaso acontecer um acidente e Sorkin perder a estatueta, pelo menos ela estará em boas mãos, já que todos os outros indicados fizeram ótimos trabalhos.
Melhor Animação:
Se Toy Story 3 não vencer vamos ter uma das maiores zebras da história do Oscar. Como Treinar o Seu Dragão e O Mágico são filmes muito bacanas, mas não chegam aos pés da obra-prima da Pixar.
Pronto. As apostas estão feitas. Agora é esperar até domingo que vem.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
127 Horas
A história de coragem e superação do escalador Aron Ralston é uma das mais impressionantes que já vi. Preso por uma pedra em uma fenda no meio das montanhas de Utah, Ralston suportou 127 horas até usar uma faca para amputar seu braço e se ver em liberdade. Danny Boyle conta essa história impecavelmente. Baseado no livro do próprio Aron Ralston, 127 Horas segue o escalador desde quando este sai de casa em direção às montanhas até o momento em que ele consegue se soltar da pedra.
Danny Boyle faz uma jogada de gênio: coloca o título de 127 Horas no exato momento em que ocorre o acidente. Isso antecipa para nós espectadores o que Aron vai enfrentar a partir dali. Ao fazer isso, Boyle nos mostra também um dos “vilões” do filme: o tempo.
Outra jogada de Boyle que achei admirável foi o fato de ele focar a câmera no canivete guardado no armário de Aron, na garrafa de energético no carro dele e no telefone tocando em sua casa. Todos eles poderiam ser úteis na situação de extrema emergência na qual o escalador se encontra. E o modo como o diretor afasta a câmera por cima da montanha é muito bom, mostrando o quão fundo Aron está na fenda.
A fotografia da dupla Enrique Chediak e Anthony Dod Mantle, juntamente com a direção de Danny Boyle, constrói uma atmosfera claustrofóbica em torno do filme, graças à iluminação e aos closes no rosto do personagem. E a trilha sonora de A. R. Rahman (o mesmo do filme anterior de Boyle, Quem Quer Ser Um Milionário?) é muito boa, transmitindo ora o bom humor de Aron no início do filme, ora o desespero dele quando está preso.
O roteiro, escrito por Danny Boyle e Simon Beaufoy, é cheio de grandes momentos. Aliás, alguns deles são parecidos com o que foi mostrado em Quem Quer Ser Um Milionário?. Enquanto está preso, Aron vê a luz do sol e alguns vídeos gravados em sua câmera, lembrando de partes marcantes de sua vida, algo parecido com o que acontecia com Jamal Malik enquanto este respondia as questões.
James Franco tem em 127 Horas aquela que, até agora, é a melhor atuação de sua carreira. Inicialmente descontraído, Franco mostra muita tranquilidade, transmitindo muito bem o fato de Aron já estar acostumado a se aventurar nas montanhas. Mas ele alcança a perfeição nas cenas em que o personagem está preso. Seus gritos de desespero nunca são exagerados e os movimentos que faz com os lábios são geniais, mostrando o quanto Aron está desgastado graças à sede, à fome (os dois outros "vilões" do filme) e aos esforços em tirar a pedra. Na cena em que faz um “talk-show” na qual é o apresentador e o convidado, ele alterna com sucesso entre o bem-humorado e o arrependido. Por esses e outros motivos, cheguei a me emocionar com a atuação deste grande ator.
O “Descanse em paz” que Aron esculpiu na montanha mostra muito bem o que 127 Horas apresentou: a morte do Aron que não dá atenção às pessoas a sua volta e o nascimento do outro Aron, que com muita coragem fez o que parecia impossível para poder, finalmente, dar mais valor a sua vida. E isso fecha com chave de ouro um filme emocionante.
Cotação:
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
O Discurso do Rei
O Discurso do Rei se passa no final da década de 1930, período em que George VI, pai da atual rainha Elizabeth II, assumiu o trono de rei da Inglaterra. Mas aqueles que forem assistir ao filme pensando que vão ter uma aula de história vão se decepcionar muito. O filme mostra o começo da grande amizade que surgiu entre o rei e seu terapeuta de fala, Lionel Logue, que o ajudou a tratar de sua gagueira.
Não é difícil entender o porquê de O Discurso do Rei ser um dos favoritos ao Oscar 2011 (ou até mesmo “o” favorito). Para começar, a direção de Tom Hooper é boa, mostrando vários ângulos de uma mesma cena e focando bem o rosto dos atores. O filme tem ainda uma direção de arte fabulosa, que recria muito bem a época em que se passa o filme, uma fotografia inspirada e uma bela história de amizade.
Um dos melhores momentos de O Discurso do Rei é quando George, ou Bertie como é chamado, fala com Lionel pela primeira vez como se o terapeuta fosse seu amigo. A partir daí, vemos o quanto Bertie começa a confiar em Lionel e o quanto este quer curá-lo. São em cenas como essa que as atuações de Colin Firth e Geoffrey Rush se tornam arrasadoras.
Além de mostrar muito bem a amizade dos dois personagens, o roteiro escrito por David Seidler ainda encontra espaço para um pouco de humor. Os métodos nada convencionais de Lionel para tentar curar Bertie são o auge deste elemento. Destaque para a cena em que Bertie começa a falar todos os palavrões que conhece. Infelizmente, em certo momento do filme, Seidler tenta colocar alguns obstáculos na amizade dos dois, algo que me pareceu típico de uma comédia romântica (a diferença é que aqui estamos falando de dois amigos e não de um casal).
Colin Firth e Geoffrey Rush, como já falei, estão excelentes no filme. O primeiro acerta em cheio no modo como retrata a gagueira de George, nunca parecendo exagerado, enquanto o segundo sempre consegue transmitir um olhar de respeito, mostrando que Lionel é um amigo fiel. E Helena Bonham-Carter interpreta muito bem a esposa de George, uma das poucas pessoas que sempre acreditou que ele seria um grande rei.
O Discurso do Rei é um filme muito bom, mas é inferior a vários de seus concorrentes na categoria principal no Oscar.
Cotação:
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Bravura Indômita
Há alguns dias atrás, assisti aos extras do DVD de Onde os Fracos Não Têm Vez e uma parte da entrevista com a atriz Kelly Mcdonald me chamou a atenção. Ela disse: “Este é um filme dos Irmãos Coen. Eles já viraram um gênero em si”. Concordo plenamente com ela. Os filmes dos Coen são diferentes de quaisquer outras produções, e este é outro motivo de eu ser um grande fã deles (algo que já declarei em um texto do mês passado). Bravura Indômita é mais um filme que se encaixa perfeitamente nesta classificação.
Refilmagem do clássico que deu o Oscar de Melhor Ator para o grande John Wayne em 1970 (filme que não assisti, assim como os Coen), Bravura Indômita conta a história de Mattie Ross, menina de quatorze anos que busca vingar a morte do pai assassinado por Tom Chaney. Para ajudá-la, Mattie contrata Rooster Cogburn, um federal que bebe demais. Os dois ainda contam com o auxílio de LaBoeuf, um policial texano que está atrás de Chaney há muito tempo.
O fato de a protagonista ser uma garota de quatorze anos fez de Bravura Indômita o filme mais leve da rica filmografia dos Irmãos Coen. Aliás, não só a protagonista, mas a trilha sonora também contribuiu muito para isso, dando um aspecto tranquilo ao filme.
Joel e Ethan Coen começam Bravura Indômita com uma de suas marcas registradas: a narração em off. Nela, Mattie Ross diz uma frase: “Você paga por tudo que faz neste mundo, de um jeito ou de outro”. Esta frase é uma peça central do roteiro dos Coen, estabelecendo uma regra e ditando o ritmo da história.
A edição rápida de Roderick Jaynes (também conhecido como Joel e Ethan Coen) é primorosa, nunca deixando o filme parar. No momento em que uma cena termina, outra começa imediatamente. E a fotografia de Roger Deakins é excelente, dando um tom especial ao filme principalmente nas cenas que ocorrem à noite, que contam com uma iluminação muito boa.
Mas Bravura Indômita não seria “um filme dos Irmãos Coen” se não tivesse o humor típico das produções deles, ainda que em menor escala. As discussões entre Cogburn, Mattie e LaBoeuf têm algumas tiradas engraçadas. A cena em que Cogburn está depondo no tribunal também tem momentos engraçados. Mas o filme faz rir quando ocorrem algumas pausas, decorrentes das reações dos personagens.
Os Coen também acertam, mais uma vez, no elenco. Jeff Bridges, que volta a trabalhar com os irmãos cineastas depois do hilário O Grande Lebowsky, tem mais uma ótima atuação para acrescentar em sua coleção e Rooster Cogburn é mais um grande personagem em sua carreira, que inclui Bad Blake (de Coração Louco) e Jeffrey "The Dude" Lebowsky (de O Grande Lebowsky). Sua voz arrastada e seu jeito atrapalhado entregam a bebedeira de Rooster Cogburn e também fazem dele um personagem sério e divertido ao mesmo tempo.
Outro grande ator que se saí muito bem é Matt Damon. Desde sua primeira cena ele mostra que LaBoeuf é um policial que gosta de ser respeitado. Josh Brolin tem poucas cenas, mas consegue fazer de Tom Chaney um personagem ameaçador.
Mas é Hailee Steinfeld quem rouba a cena. Ela mostra que Mattie Ross é forte e corajosa, o que deixa os outros personagens de boca aberta (acho que nem eram os personagens, mas os atores ficando surpresos com o talento da atriz). A estrela dela nunca se apaga, nem mesmo quando aparece em cena discutindo com Jeff Bridges. Certamente, é uma atriz em que devemos ficar de olho.
Envolvente, bem dirigido e roteirizado, Bravura Indômita mostra que Joel e Ethan Coen acertaram de novo.
Cotação:
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Inverno da Alma
Inverno da Alma é um dos dramas mais fortes entre os indicados ao Oscar 2011. O filme mostra Ree Dolly, uma garota de 17 anos que leva uma vida difícil tentando sustentar a mãe doente e seus dois irmãos mais novos. A situação piora quando ela fica sabendo que seu pai foragido colocou a casa deles como seguro de sua fiança, e a propriedade será tomada pelo governo se ele não comparecer à audiência. Então, Ree sai em busca de seu pai, indo contra os conselhos de várias pessoas, incluindo seu tio, Teardrop.
Dirigido por Debra Granik, e roteirizado por ela e Anne Rosellini, Inverno da Alma tem como propósito mostrar um lado triste e pobre da sociedade norte americana. Ree consegue sustentar a família com a ajuda de seus vizinhos, que lhe dão comida e dinheiro sempre que podem. E a garota sempre se mostra disposta a tudo para conseguir ajudar sua família, e isso faz dela uma personagem admirável.
A bela fotografia de Michael McDonough traz uma atmosfera congelante, ideal já que o filme se passa em um lugar frio e úmido. E o fato de Debra Granik não usar nenhum tipo de trilha sonora faz com que Inverno da Alma fique ainda mais sombrio.
No elenco, Jennifer Lawrence e John Hawkes têm grandes atuações e mereceram suas indicações ao Oscar. Lawrence aparece sempre forte em cena, apresentando Ree Dolly como uma personagem triste e corajosa. E Hawkes faz de Teardrop alguém que causa desconforto para os outros personagens em cena, mas que nunca tem um olhar de ameaça, e sim de preocupação. Ele apenas quer o bem da única família que lhe resta.
O retorno da regra de dez indicados na categoria de Melhor Filme no Oscar foi muito boa, já que dá prestígio a filmes que normalmente não seriam lembrados. Inverno da Alma seria um desses filmes, e fico feliz em ver que teve seu reconhecimento.
Cotação:
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
O Vencedor
Micky Ward foi um grande boxeador que no início da carreira era usado como “trampolim” para seus adversários. Ward superou este e outros obstáculos para se tornar um grande campeão. É essa história que O Vencedor se propõe a contar.
O roteiro escrito por Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson mostra como era o relacionamento do boxeador com sua família. A camaradagem de Micky e seu irmão Dicky Ecklund é estabelecida logo no início do filme. Os conflitos familiares são bem abordados, e mostram que todos ali estão dispostos a se unir para ver Micky ser um campeão. Outros elementos importantes para a história também são mostrados: o vício em drogas de Dicky e a guinada na carreira de Micky. Mas o tempo dedicado a cada elemento trouxe um pouco de desequilíbrio para a narrativa do filme.
A opção do diretor David O. Russell de filmar as lutas de Micky com uma fotografia “televisiva” incomodou um pouco. Não precisava disso para dar um pouco mais de realidade ao filme. Uma fotografia comum seria a mais adequada.
Mas o elenco é o grande mérito de O Vencedor. Depois de ter sido indicado ao Oscar por Os Infiltrados, Mark Wahlberg viveu um período de decadência assustador. Teve atuações medíocres em filmes fracos como Fim dos Tempos e Max Payne. Mas em O Vencedor ele volta a ter uma boa atuação, e compõe um personagem digno de seu talento.
Christian Bale mais uma vez se sacrifica por um personagem (não da forma assustadora vista em O Operário) e tem mais uma atuação espetacular. Dicky Ecklund é um cara que desde o início mostra se importar mais com sua família do que consigo mesmo. Isso fica claro em várias cenas, sendo uma delas quando Dicky começa a cantar uma música para afastar um pouco a tristeza de sua mãe, Alice, muito bem interpretada por Melissa Leo. A atriz mostra muito bem que Alice é uma mãe super protetora, que quer estar envolvida de qualquer jeito na vida dos filhos. E Amy Adams mais uma vez mostra todo o seu talento interpretando Charlene, a namorada de Micky. Ela é o refúgio do boxeador em meio a tantos problemas no ringue e na família.
O Vencedor pode não ser um filme do calibre de Rocky: Um Lutador e Menina de Ouro, mas chega perto de conseguir tal feito.
Cotação:
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Scott Pilgrim Contra o Mundo
Algo que me incomoda bastante é o fato de alguns filmes terem suas estreias adiadas diversas vezes. Isso acontece porque eles não fizeram muito sucesso nas bilheterias, e não há garantias de que eles trarão dinheiro para o bolso de suas distribuidoras aqui no Brasil. Mas todo filme tem seu público, e por isso acho que todas as produções deveriam ser lançadas. Sendo assim, fiquei muito feliz, e surpreso, quando vi que Scott Pilgrim Contra o Mundo estreou aqui em Porto Alegre. O filme foi lançado no circuito nacional há quatro meses, e eu já havia perdido as esperanças de assisti-lo no cinema.
Baseado na graphic novel de Bryan Lee O’Malley, Scott Pilgrim Contra o Mundo nos apresenta a Scott Pilgrim, jovem baixista da banda Sex Bob-Omb. Quando conhece Ramona Flowers, Scott a vê como a garota de sua vida. Mas para ficar com ela, ele precisa derrotar os sete Ex-Namorados do Mal que a garota colecionou, uma tarefa nada fácil.
Edgar Wright (diretor dos hilários Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso) nos mergulha em um universo nerd. Scott Pilgrim Contra o Mundo conta com elementos dos quadrinhos e dos vídeo-games que estabelecem o seu formato. Onomatopéias aparecem constantemente na tela, e as barrinhas de energia e os efeitos sonoros parecem ter sido tirados de um jogo antigo.
Os efeitos visuais são muito bons dando um toque especial ao filme, principalmente nas cenas de luta que são um show à parte por serem muito bem executadas. As sequências em quadrinhos, nas quais o roteiro explica os relacionamentos que Ramona teve com alguns dos ex-namorados, foram opções muito criativas de Wright e representam alguns dos grandes momentos do filme. A trilha sonora da banda do protagonista é outro elemento que deixa Scott Pilgrim Contra o Mundo ainda mais empolgante. É legal ver Scott derrotar seus oponentes enquanto a Sex Bob-Omb arrebenta nas músicas.
Para fechar a diversão, nada melhor do que um elenco inspirado interpretando personagens divertidíssimos. Michael Cera foi o ator perfeito para o papel de Scott Pilgrim. São poucos os bons atores que tem cara e jeito de nerd, dois elementos que me pareceram essenciais para a caracterização do personagem. Kieran Culkin interpreta o amigo gay de Scott, Wallace Wells, e protagoniza algumas das cenas mais engraçadas do filme. Mary Elizabeth Winstead não decepciona como Ramona Flowers, e as participações de bons atores como Jason Schwartzman, Chris Evans, Anna Kendrick, Brandon Routh e Thomas Jane deixam o filme ainda mais bacana.
Scott Pilgrim Contra o Mundo deixa uma bela mensagem de que devemos derrubar todos os obstáculos para ficar com quem amamos. Divertido do início ao fim, é o filme mais nerd que já assisti, e talvez este seja outro motivo para eu ter gostado tanto dele. Não demorará muito para que se torne um cult.
Cotação:
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