Fazer um filme a partir dos casos
paranormais que cruzaram o caminho de Ed e Lorraine Warren, usando o casal como
uma dupla investigativa, é uma ideia interessante, e o diretor James Wan soube aproveita-la
maravilhosamente em Invocação do Mal,
um dos filmes de terror mais bem sucedidos dos últimos anos. Não é surpresa,
portanto, que estejamos diante de Invocação
do Mal 2, até porque a “sala de troféus” na casa dos Warren indica que essa
ideia pode render uma longa franquia de terror, já tendo dois exemplares
admiráveis que comprovam seu potencial.
Escrito pelos irmãos Carey e Chad
Hayes (os mesmos roteiristas do filme anterior) em parceria com o próprio James
Wan e David Leslie Johnson, Invocação do
Mal 2 nos apresenta a Peggy Hodgson (Frances O’Connor) e seus quatro filhos,
que moram humildemente em uma casa no bairro Enfield, em Londres. Entre as
crianças temos a jovem Janet (Madison Wolfe), que passa a ser o principal alvo de
atividades estranhas na casa, algo que eventualmente assombra a família toda.
Com o caso chamando a atenção de vários lados, inclusive da mídia, Ed e
Lorraine (novamente interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga) são
chamados para ajudar os Hodgson, mesmo que estejam enfrentando alguns
resquícios de sua última investigação, em Amityville (sim, exatamente o caso
que já rendeu uma série de filmes).
Logo no início já podemos perceber
que essa continuação basicamente apostará em tudo o que funcionou no longa
anterior, como se vê na própria estrutura da trama, que apresenta os Warren em meio
a um caso e depois acompanha as respectivas rotinas deles e dos Hodgson, entrelaçando-as
até o ponto em que se encontram. Além disso, novamente nos deparamos com um plano-sequência
no qual James Wan estabelece a dinâmica da família que está sendo assombrada, e
até mesmo alguns sustos lembram o que havíamos visto anteriormente. Podemos até
dizer que o filme é mais do mesmo, mas a verdade é que Wan consegue fazer com
que todas essas coisas funcionem novamente, tornando perdoável qualquer
familiaridade que tenhamos com o que é colocado na tela.
Ao mesmo tempo em que dedica uma
boa parte do tempo para humanizar os personagens, James Wan é hábil ao usar detalhes
como portas fechando com força, cadeiras e brinquedos se mexendo e a própria
vulnerabilidade dos personagens para construir uma atmosfera de tensão
crescente e angustiante, criando momentos formidáveis a partir disso, como a
cena feita em plano longo e que acompanha a conversa de Ed com o fantasma da
casa dos Hodgson. Ocasionalmente, fica a impressão de que estamos diante de um
pesadelo, e a fotografia de Don Burgess contribui para isso ao apostar em um
tom sombrio e congelante que ressalta muito bem o lado macabro da narrativa. No
entanto, vale dizer que nada disso impede James Wan de trazer momentos divertidos
e de pura leveza que não só aliviam um pouco a tensão, mas também nos aproximam
ainda mais dos personagens, e o maior destaque nisso é a belíssima cena em que
Ed imita Elvis Presley.
Ed, aliás, volta a ser
interpretado com grande segurança por Patrick Wilson, enquanto Vera Farmiga faz
de Lorraine uma mulher capaz de driblar vulnerabilidades a fim de impor sua força,
e mais uma vez os atores exibem uma bela dinâmica em cena, mostrando o quanto
que aquele casal se completa e se importa um com o outro. Enquanto isso, intérpretes como Francis O’Connor, Simon McBurney e Franka Potente fazem bem os papeis de
Peggy, do investigador Maurice Grosse e da parapsicóloga Anita Gregory, ao
passo que Madison Wolfe surge como a revelação do projeto interpretando Janet
Hodgson, tendo provavelmente se inspirado no trabalho de Linda Blair em O Exorcista, obra cuja influência se
percebe no filme todo.
Mas um dos pontos mais bacanas de
Invocação do Mal 2 reside no fato de
James Wan não se contentar em apenas contar a história que tem em mãos, trazendo
uma discussão quanto a veracidade do caso ao focar um pequeno embate entre a
crença no que está acontecendo e o ceticismo. Afinal, não haveria uma
explicação racional por trás daquela situação? Até onde se trata mesmo de algo
sobrenatural? Existe alguma chance de tudo ser uma invenção de uma família
psicologicamente fragilizada? São questões interessantes e que são abordadas
com inteligência pelo roteiro, que tem noção de que o próprio filme, assim como
o caso, precisa em maior ou menor grau de um voto de confiança (como é
mencionado pelos personagens) de nossa parte para que possamos ter a visão de
sua realidade.
Mesmo sentindo a necessidade de
se entregar a certos acasos para resolver a trama (como quando um personagem
percebe algo importante ao se deparar acidentalmente com algumas fitas), Invocação do Mal 2 é um terror consistente
e envolvente do início ao fim. Depois de termos continuações irregulares como Alice Através do Espelho e Truque Mestre 2, é bom ver uma que não
tenta apenas aproveitar o sucesso do filme anterior.
Nota:
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