terça-feira, 30 de abril de 2013

Homem de Ferro 3

O primeiro filme do Homem de Ferro foi uma surpresa na época de seu lançamento, iniciando com sucesso o grande projeto da Marvel Studios que culminou em Os Vingadores. Portanto, enquanto Joss Whedon desenvolve outra reunião da super equipe que fez sucesso em 2012, é até justo que aquela que está sendo chamada de Fase 2 do estúdio comece exatamente com mais um filme do herói playboy bilionário. Com Shane Black (criador da ótima franquia Máquina Mortífera e cujo último trabalho foi o excepcional Beijos e Tiros) tomando a cadeira de diretor que antes pertencia a Jon Favreau (que agora fica só com o papel de ator, interpretando o segurança Happy Hogan novamente), Homem de Ferro 3 tem seus problemas, mas é uma produção que entretém seu espectador, e boa parte disso se deve novamente a seu protagonista.
Escrito pelo próprio Shane Black em parceria com Drew Pearce, Homem de Ferro 3 mostra um Tony Stark (Robert Downey Jr.) abatido pelos eventos retratados em Os Vingadores. Tendo problemas para dormir, ele gasta a maior parte de seu tempo pensando em formas de proteger aqueles com quem se importa, especialmente Pepper Potts (Gwyneth Paltrow). Enquanto isso, uma nova ameaça surge na pele do Mandarim (Ben Kingsley), terrorista que está por trás de vários atentados a bomba pelo país. Ao mesmo tempo, Stark tem que lidar com Aldrich Killian (Guy Pearce) e Maya Hansen (Rebbeca Hall), figuras de seu passado que reaparecessem com uma tecnologia chamada Extremis, que cura qualquer deficiência física da pessoa que a utilizar.
Se nos filmes anteriores a paixão que Tony Stark parece sentir por si próprio ficava clara, em Homem de Ferro 3 não é diferente, e novamente isso resulta em cenas divertidas. Em um momento no início da projeção ele solta um “Eu sou demais!” e em outro ele basicamente se compara a Albert Einstein. Esse narcisismo é algo que sempre fez o personagem ser tão interessante, e Robert Downey Jr. mais uma vez encarna esse lado da personalidade do protagonista confortavelmente, emprestando seu carisma habitual (na verdade, o ator já consegue interpretar o personagem com as mãos atadas).
O roteiro procura fazer de Tony Stark uma figura um pouco mais vulnerável do que víamos nos outros filmes. O problema é que faz isso artificialmente, incluindo cenas em que ele tem pequenos ataques de ansiedade que às vezes chegam a acontecer do nada, e o aparente motivo por trás disso é mal explorado. Ainda assim, essa parte séria da história resulta em bons momentos, como quando o protagonista resolve ser honesto com Pepper e explicar o que está sentindo. Aliás, quando o personagem mostra o carinho que sente pelas pessoas ao seu redor, ele se torna uma figura ainda mais fácil de simpatizar (ele inclusive mostra conhecer bem os gostos pessoais de Happy Hogan).
Comandando sua primeira superprodução, Shane Black faz um bom trabalho ao impor tensão nas sequências de ação (como o resgate em um avião ou a luta entre Stark e uma agente enviada por Mandarim), o que até compensa o fato de a geografia das cenas nem sempre ficar muito clara. Vale dizer também que em algumas dessas sequências, o diretor coloca o protagonista e seu amigo James Rhodes (interpretado por Don Cheadle) lutando sem armaduras, o que os deixam com uma desvantagem interessante em alguns combates. E é impossível não destacar o trabalho da equipe de efeitos visuais, que faz coisas de tirar o fôlego ao longo do filme, como a destruição da casa de Stark.
O cineasta ainda consegue fazer toda a investigação com relação aos ataques do Mandarim ser algo envolvente, arranjando tempo para desenvolver com certo sucesso a relação entre o protagonista e Harley (interpretado com carisma por Ty Simpkins), garoto que passa a ajuda-lo em determinado momento. No entanto, o diretor não chega a dar um tom de urgência ao filme, o que impede que temamos pelo destino dos personagens, mesmo quando algo aparentemente grave acontece com um deles no terceiro ato, em uma cena que infelizmente não tem impacto algum. Além disso, algumas gags ficam muito repetitivas ao longo da história, como a inclusão de um relógio incomum usado por Stark.
Se Robert Downey Jr. aparece muito bem no papel que o transformou em astro absoluto, o mesmo não pode ser dito sobre outros membros de um elenco que tem seus altos e baixos. Enquanto Gwyneth Paltrow surge simpática na pele de Pepper Potts, Don Cheadle tem seu James Rhodes transformado em uma espécie de alívio cômico (como se o filme já não tivesse comicidade o bastante). Já Guy Pearce faz o possível com seu Aldrich Killian, vilão que não deixa de ser meio clichê, sendo alguém que foi ignorado no passado e volta para um acerto de contas, ao passo que a talentosa Rebecca Hall é desperdiçada, já que Maya Hansen aparece meio perdida na trama, podendo ter sido descartada pelo roteiro e suas ações poderiam ser executadas por outro personagem. Finalmente, Ben Kingsley transpira ameaça interpretando o Mandarim (pelo menos até a hora de ele protagonizar uma reviravolta surpreendente e divertida, cujo propósito na história é no mínimo curioso).
No geral, Homem de Ferro 3 não chega a ser um grande filme, mas é um fechamento interessante para essa trilogia do personagem e um início razoável para a nova fase da Marvel nos cinemas. Os créditos finais já avisam que Tony Stark retornará, e fica a esperança para que ele ao menos continue divertindo com suas aventuras.
Obs.: Como de costume nos filmes atuais da Marvel, há uma cena após os créditos finais.
Cotação:

sábado, 27 de abril de 2013

Breve Comentário - Para Maiores

É sempre curioso quando vários astros aparecem em um único filme. Para Maiores é uma produção que conseguiu um elenco com figuras talentosíssimas como Hugh Jackman, Kate Winslet, Naomi Watts e Richard Gere (que aqui fazem coisas bem diferentes daquilo que estão acostumados), além de jovens em ascensão como Emma Stone, Chloë Moretz e Christopher Mintz-Plasse. No entanto, consigo pensar em apenas dois motivos para que esses atores tenham aceitado participar desse projeto: 1) eles trabalhariam com um elenco interessante; 2) o cheque oferecido pelos produtores deve ter sido muito bacana por algo que deve ter levado poucos dias para filmar.
Para Maiores é dividido em uma série de curtas-metragens dirigidos por vários cineastas e que são ligados pela história de três garotos (interpretados por Mark L. Young, Adam Cagley e Devin Eash) que tentam encontrar a todo custo um filme que foi banido em todo o mundo (o Movie 43 do título original). Sendo assim, eles começam a assistir a vários vídeos até encontrar aquele que desejam, em algo que inicia como uma brincadeira, mas que vira bem mais do que isso depois.
O que se segue é uma série de sketches que não fazem muita graça com seu humor politicamente incorreto, que consegue ser incrivelmente estúpido na maior parte do tempo. Os péssimos roteiros dos curtas incluem desde um personagem que conta com uma coisa grotesca no pescoço até outro que se torna uma bomba de cocô. E não posso esquecer o bizarro jogo de “Verdade ou Consequência?” protagonizado por Halle Berry e Stephen Merchant.
Para Maiores acaba sendo uma comédia constrangedora e deplorável do início ao fim. E quando pensamos que tudo acabou, os realizadores ainda fazem questão de colocar o pior segmento (protagonizado por Josh Duhamel e Elizabeth Banks) em meio aos créditos finais. Parabéns aos envolvidos naquele que é, sem dúvida, um dos piores filmes do ano.
Cotação:

terça-feira, 23 de abril de 2013

Meu Tio Matou Um Cara

Em Meu Tio Matou Um Cara, Jorge Furtado tem uma ideia intrigante: fazer uma divertida comédia adolescente com uma história de detetive que tem algumas referências ao gênero de filmes noir, envolvendo o crime que dá nome a produção. Mesmo contando com sua parcela de problemas quando executado, este terceiro longa-metragem do diretor (e o mais inferior dentre os quatro que ele comandou) ainda funciona bem dentro do que se propõe a fazer, resultando em um entretenimento de qualidade.
Escrito pelo próprio Jorge Furtado em parceria com outro conhecido cineasta brasileiro, Guel Arraes (aliás, esta é uma parceria que já dura muitos anos), Meu Tio Matou Um Cara nos apresenta a Duca (Darlan Cunha), jovem de 15 anos cujo tio, Éder (Lázaro Ramos), confessa ter matado o marido de sua amante, Soraya (Deborah Secco), em legítima defesa. Desconfiado de que Éder possa estar assumindo o crime para livrar a namorada, Duca tenta descobrir o que realmente aconteceu, fazendo uma pequena investigação ao lado de seus amigos Isa (Sophia Reis) e Kid (Renan Gioelli). Ao mesmo tempo, ele tem que lidar com a tristeza de estar apaixonado por Isa, que por sua vez está apaixonada por Kid.
Toda a investigação da história é muito interessante, e a narração em off do protagonista conduz muito bem o espectador ao longo do filme. Isso porque Duca demonstra ser um ótimo observador e um detetive talentoso. Logo nos minutos iniciais, ele questiona certas coisas sobre o crime que não só são muito relevantes como ainda o coloca à frente de todos os adultos que entram em cena. Quando Duca visita Soraya, por exemplo, é bacana vê-lo notar a presença de alguns objetos que não deveriam pertencer à namorada de seu tio, o que o faz chegar a uma determinada conclusão (isso certamente deixaria Sherlock Holmes orgulhoso). Como Duca consegue ser um bom detetive? O roteiro meio que deixa isso claro ao colocar o personagem jogando um jogo de mistério, o que pode ser um pequeno indício de que ele gosta desse tipo de assunto. Por sinal, o próprio jogo é utilizado de maneira criativa durante o filme, quando Duca aparece pegando pistas em algumas cenas.
O fato de Duca ser mais inteligente que os adultos da história diverte porque o garoto é subestimado em vários momentos, como quando sua mãe, Cléia (Dira Paes), tenta explicar a situação de seu tio e ele age como se já estivesse acostumado com esse tipo de coisa, pedindo para que ela faça várias perguntas sobre o crime. Outro exemplo é quando o personagem sai de casa, mas espera um pouco do lado de fora para saber o que seus pais irão fazer em sua ausência. Além disso, as referências feitas pelo roteiro de Furtado e Arraes aos filmes noir fazem Meu Tio Matou Um Cara chamar ainda mais atenção. Temos o detetive responsável por um misterioso caso de homicídio e até mesmo uma femme fatale na pele de Soraya (e Deborah Secco se revela uma boa escalação, já que o charme e a sedução da atriz ficam evidentes logo em sua primeira cena).
Mas o roteiro também tem que lidar com o triângulo amoroso entre Duca, Isa e Kid. Isso é uma pena porque essa parte da história não chega a ser tão boa quanto poderia, até pelo fato de Isa e Kid não serem figuras muito interessantes nas mãos de Sophia Reis e Renan Gioelli. Já Darlan Cunha consegue fazer de Duca alguém mais carismático mesmo com o aborrecimento que mostra durante a maior parte do tempo, porque isso acaba deixando claro que a sensação do personagem de estar apaixonado e não ser correspondido não é das melhores. Enquanto isso, o elenco adulto surge bastante confortável em seus papéis desde o divertido Airton Graça até a simpática Dira Paes. E Lázaro Ramos, em sua segunda colaboração com Jorge Furtado, consegue interpretar Éder como um homem bom, que não poderia machucar uma mosca, mas que é também um idiota (algo afirmado por todos os personagens do filme em ao longo da história).
Apesar de não se encontrar entre os melhores trabalhos de Jorge Furtado, Meu Tio Matou Um Cara ainda é um filme bacana, ficando muito acima de boa parte das comédias brasileiras lançadas nos cinemas.
Cotação:

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Morte do Demônio

Com um orçamento limitadíssimo e uma equipe de filmagem inexperiente liderada por um jovem Sam Raimi, A Morte do Demônio (ou The Evil Dead, como é mais conhecido) foi uma grande surpresa no início da década de 1980, sendo muito aclamado em seu lançamento. Entretendo e assustando, o filme mantém até hoje o titulo de clássico cult, tendo rendido ainda as continuações Uma Noite Alucinante e Uma Noite Alucinante 3 (eu sei, os tradutores dos títulos fizeram confusão), formando uma trilogia muito divertida. Um remake para o filme é algo que soa desnecessário, assim como foi com tantas outras obras de terror que ganharam novas roupagens nos últimos anos. Mas diferente das pavorosas refilmagens de A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 e O Massacre da Serra Elétrica, esta produção dirigida pelo uruguaio Fede Alvarez (responsável pelo bom curta Ataque de Pânico, que fez muito sucesso na internet) e produzida por Raimi e Bruce Campbell (o astro da trilogia) pelo menos mostra ser interessante com todo o jorro de sangue que banha a tela.
Escrito por Alvarez em parceria com Rodo Sayagues (que colaborou com o diretor não só em Ataque de Pânico, mas também em outros projetos), este novo A Morte do Demônio traz David (Shiloh Fernandez), sua irmã Mia (Jane Levy), a namorada dele Natalie (Elizabeth Blackmore), o professor Eric (Lou Taylor Pucci) e a enfermeira Olivia (Jessica Lucas), todos jovens que resolvem fazer uma reunião em uma antiga cabana. Lá eles pretendem fazer com que Mia supere seu vício em drogas. Só que tudo passa a dar errado no momento em que um deles lê uma passagem do Naturom Demonto, o livro do demônio, fazendo com que seres malignos transformem o local em um verdadeiro inferno.
A Morte do Demônio demonstra estar mais empenhado a causar calafrios no público com sua violência do que qualquer outra coisa. Nesse sentido, Fede Alvarez não economiza no gore quando surge a oportunidade de fazer algo nojento, como ao mostrar alguém partindo uma língua ao meio ou na cena em que uma personagem leva um banho de vômito sanguinolento (Sam Raimi deve ter ficado orgulhoso dessa parte). Sendo assim, os efeitos práticos realizados nessas sequências são muito convincentes, o que se deve graças ao bom trabalho das equipes de maquiagem e efeitos visuais. Mesmo assim, a violência do filme não chega a ser uma grande novidade, não devendo nada a franquias como Jogos Mortais.
Enquanto isso, o roteiro acerta ao não se preocupar tanto em ficar fazendo referências ao filme original. Quando tais referências aparecem, Alvarez e Rodo Sayagues fazem isso de maneira bastante natural na história, não sendo algo puramente gratuito, como a inclusão de uma determinada serra elétrica. E apesar do tom mais sério, o humor negro ainda aparece em algumas cenas e consegue divertir (a fala de uma determinada personagem depois que ela decepa o próprio braço é hilária).
Fede Alvarez se sai bem ao construir uma boa atmosfera de tensão em torno da narrativa, o que funciona na maior parte do tempo e de certa forma ajuda a prender a atenção do público, principalmente no terceiro ato da trama, que representa o melhor momento do filme. No entanto, o diretor falha ao tentar causar os sustos, o que ele infelizmente não consegue fazer nem usando os típicos efeitos sonoros para intensifica-los. Chega a ser triste ver o diretor tentar arrancar alguns gritos utilizando o velho clichê do personagem que se assusta com algo que vê no espelho.
Mas o principal problema de A Morte do Demônio é seus personagens, que mostram ser pouco inteligentes (logo no início eles veem que alguma bruxaria aconteceu na cabana, mas mesmo assim preferem ficar por ali), além de serem transformados em seres muito aborrecidos por seus intérpretes. Ninguém aqui tem a energia, o carisma ou o bom humor de Bruce Campbell quando este encarnava Ash. O maior destaque acaba ficando com a protagonista Jane Levy, que faz de Mia uma figura mais interessante no terceiro ato. Até lá a atriz não consegue fazer muita coisa com a personagem, já que ela fica possuída durante grande parte da história.
Diferente do que diz em seu cartaz de divulgação, A Morte do Demônio não é nem de perto o filme mais apavorante que veremos. Mas é uma produção eficiente e que não mancha a imagem que a série mantém até agora.
Obs.: Há uma brevíssima cena depois dos créditos finais que os conhecedores da franquia devem gostar.
Cotação:

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Homem Que Copiava

Com uma carreira muito bem consolidada com seus belíssimos curtas-metragens, foi bom ver Jorge Furtado partir para os longas-metragens com o divertido Houve Uma Vez Dois Verões. Mas o que é ainda melhor é ver o diretor compor um grande quebra-cabeça neste seu segundo longa, O Homem Que Copiava. Contando com uma narrativa inteligente que Furtado conduz muitíssimo bem, o filme consegue divertir o público ao mesmo tempo em que consegue prender sua atenção do início ao fim com relação ao que vai acontecer com seus personagens.
Escrito pelo próprio Furtado, O Homem Que Copiava conta a história de André (Lázaro Ramos), um jovem que trabalha como operador de fotocopiadora, um emprego do qual não tem muito orgulho até por ser um serviço que qualquer pessoa poderia fazer. Apaixonado por sua vizinha, Silvia (Leandra Leal), André tenta se aproximar dela comprando alguma coisa na loja onde ela trabalha. O problema é que ele leva uma vida financeiramente difícil, algo que a cena inicial (onde ele é obrigado a deixar alguns produtos no supermercado para comprar uma caixa de fósforos) estabelece muito bem. Mas ele vê a chance de ganhar um pouco mais de dinheiro quando o lugar em que ele trabalha recebe uma máquina que faz cópias coloridas, dando a oportunidade para que ele multiplique notas de 50 reais, o que o leva a várias situações inesperadas, principalmente quando ele se junta a Cardoso (Pedro Cardoso), conhecido de sua colega de trabalho, Marinês (Luana Piovani).
Antes de chegar ao ponto principal da trama, Jorge Furtado passa um bom tempo apresentando o protagonista, sua vida e as pessoas com quem ele convive. Nesse sentido, a narração em off de André acaba sendo importante para mostrar como ele se vê e quais são seus sonhos. Também é interessante que a trilha de Leo Henkin invista em tons bastante melancólicos ao retratar o dia a dia do rapaz, já que casa perfeitamente com a atual situação dele. Além disso, Lázaro Ramos retrata eficientemente a timidez e a insegurança do personagem, o que pode ser notado tanto em seu tom de voz quanto no detalhe de ele manter a cabeça abaixada durante a maior parte do tempo. E o carisma do ator torna fácil para o público a tarefa de simpatizar rapidamente com André.
Assim como acontece em Houve Uma Vez Dois Verões, Jorge Furtado constrói O Homem Que Copiava fazendo uma mistura de gêneros fascinante. Aqui, o cineasta vai da comédia a animação (usada para contar o passado do protagonista ao mesmo tempo em que se encaixa no fato de ele ser um ótimo desenhista), passando pelo romance e até mesmo pelo thriller (que rende momentos de tensão muito bacanas). Tudo servindo a favor da narrativa e tornando o filme ainda mais interessante. Como se não bastasse, o diretor parece encontrar tempo para homenagear o cinema mudo, o que ocorre quando André está na janela de seu apartamento, observando Silvia através de seu binóculo, e o pai da garota tenta vê-la tomar banho, numa sequência que conta apenas com o áudio da música clássica de Mozart, que evidencia tanto o encantamento do protagonista por sua amada quanto a indignação que ele passa sentir com o pai dela.
Vale dizer também que a montagem de Giba Assis Brasil (habitual colaborador do cineasta) é responsável por alguns grandes momentos do filme, como quando André diz que conseguiu mapear todo o quarto de Sílvia pelo modo como ela posicionava um espelho. Mas o que acaba sendo realmente admirável em O Homem Que Copiava é o modo como Jorge Furtado distribui pistas aparentemente insignificantes durante a história, com o propósito de retoma-las mais tarde de maneira surpreendente. Tudo bem que às vezes os resultados dessas pistas são um tanto absurdos, mas nessas horas o filme diverte exatamente por isso.
Se Lázaro Ramos surge muito bem no papel principal, o resto do elenco também não decepciona. Leandra Leal consegue tornar Silvia uma figura adorável, além de tímida como André, e tem uma belíssima química com Ramos. Já Luana Piovani é bem sucedida ao fazer de Marinês alguém que é mais do que seus atributos físicos podem sugerir, ao passo que o competente Pedro Cardoso aparece como um alívio cômico bem-vindo (a cena em que ele fala sobre os efeitos de ter parado de fumar é divertidíssima).
O Homem Que Copiava é, no fim das contas, um filme absolutamente brilhante, mostrando toda a genialidade de seu diretor, que é com certeza um dos grandes realizadores do nosso cinema atualmente.
Cotação:

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Hospedeira

Geralmente quando um livro de um determinado escritor é levado para as telas e se torna um sucesso, é questão de tempo até que surja a ideia de adaptar alguma outra obra que ele tenha escrito. É o caso de Stephanie Meyer, cuja saga Crepúsculo teve grandes números nas bilheterias, apesar de ser um desastre quando vemos sua qualidade de modo geral. Agora chegou a vez de A Hospedeira, filme que mostra ter uma premissa curiosa, dando esperanças de que o resultado final seja ao menos melhor do que a trama dos vampiros. Mas infelizmente a produção é muito problemática, jogando fora tal premissa.
Escrito e dirigido por Andrew Niccol, A Hospedeira nos apresenta a um planeta Terra bastante tranquilo, já que pacíficos seres alienígenas conhecidos como Almas estão se apossando dos corpos dos humanos. Melanie Stryder (Saoirce Ronan) é uma das poucas pessoas que restaram da nossa raça, e tenta fugir dos invasores ao lado de seu irmão, Jamie (Chandler Canterbury), e de seu namorado, Jarred (Max Irons). Mas ela é capturada e uma Alma conhecida como Peregrina é inserida em seu corpo, tendo como objetivo passar informações sobre o paradeiro de outros humanos a uma Buscadora (Diane Kruger). No entanto, a consciência de Melanie se mantém viva, e consegue fazer com que Peregrina simpatize com seus sentimentos, dividindo-a entre proteger os humanos e se manter fiel à própria espécie.
Mostrando o atual estado da Terra nos primeiros minutos e não demorando muito para chegar ao dilema de sua protagonista, A Hospedeira tem um início realmente promissor. No entanto, é impressionante o quanto o filme cai no decorrer da história, principalmente depois de Peregrina se juntar ao grupo liderado por Jeb (William Hurt), tio de Melanie, conseguindo assim encontrar Jamie e Jarred. A partir daí, o roteiro começa a se concentrar muito em um romance sem graça, sendo este um quadrado amoroso com Melanie apaixonada por Jarred enquanto Peregrina se apaixona por Ian (Jake Abel), outro membro do grupo. É algo que acaba fazendo jus ao tedioso trio principal de Crepúsculo, chegando ao cúmulo quando Melanie “some” e Peregrina tenta traze-la de volta beijando os dois sujeitos, em uma cena que nem acrescenta muita coisa à narrativa.
Se tal romance não é bom de acompanhar isso também se deve ao fato de os personagens não serem figuras das mais cativantes. Jarred e Ian, por exemplo, são demasiadamente aborrecidos, além de serem interpretados sem o menor carisma por Max Irons (que depois de A Garota da Capa Vermelha mostra mais uma vez não ter herdado um pouco do talento do pai, Jeremy Irons) e Jake Abel. Já Peregrina passa boa parte do filme conversando com Melanie em seu inconsciente, em cenas que soam bobas em vários momentos, como quando as duas discutem e acabam se acidentando no meio da estrada. E Saoirce Ronan (que apesar de não ter aparecido muito bem em Um Olhar do Paraíso já demonstrou ter talento em produções como Desejo e Reparação e Hanna) infelizmente não consegue tornar as personagens interessantes, o que inclusive tira o impacto das sequências em que deveríamos temer pelo destino delas. Quanto ao resto do elenco, se William Hurt chama a atenção sempre que aparece interpretando Jeb (o que é até um milagre por parte do ator), o mesmo não pode ser dito sobre Diane Kruger, que pouco tem a fazer com sua Buscadora, sendo que ainda é dona de falas terríveis como “Este é um planeta grande” (não diga!).
Mas o que é mais triste de ver em A Hospedeira talvez seja o trabalho de Andrew Niccol. Responsável pelo belíssimo roteiro de O Show de Truman e diretor de filmaços como Gattaca e O Senhor das Armas, além do bom S1mOne, Niccol comandou em 2011 o fraco O Preço do Amanhã (coincidentemente, outro filme que tinha uma premissa interessante e que foi desperdiçada), e é decepcionante ver que em A Hospedeira ele continua não dando sinais do diretor-roteirista eficiente que mostrava ser. Ao longo da projeção, vemos Niccol comandar o filme de maneira burocrática, não conseguindo criar nada muito empolgante. Até uma perseguição de carros resulta em algo cansativo. E quando tem a chance de criar um momento com um pouco de tensão (quando Peregrina vai a um hospital pegar medicamentos), é lamentável que ele opte por resolver a cena de um jeito fácil demais.
Enrolando demais sua história e contando ainda com um ritmo pouco envolvente, A Hospedeira acaba sendo um filme entediante ao longo de suas duas horas de duração, representando mais uma obra totalmente esquecível baseada em um livro de Stephanie Meyer. Resta esperar que seu fracasso financeiro impeça que ele se torne o início de mais uma franquia cinematográfica, considerando que a escritora pretende fazer dessa história uma trilogia.
Cotação:


sábado, 6 de abril de 2013

Mama

Em 2008, o cineasta argentino Andrés Muschietti realizou Mamá, um curta-metragem de terror de baixo orçamento que consistia em apenas uma cena feita em plano-sequência (o filme tem cortes, mas são todos mascarados para passar a ideia de uma única tomada), que conseguia criar um belo ambiente de tensão ao longo de seus meros 3 minutos de duração. A pequena produção fez grande sucesso e chegou as mãos de Guillermo del Toro, que agora produz este Mama, a versão em longa-metragem dirigida pelo próprio Andrés Muschietti.
Escrito por Neil Cross em parceria com o diretor e sua irmã, Barbara Muchietti, Mama mostra as pequenas Victoria e Lily (Michelle Charpentier e Isabelle Nélisse, respectivamente), que ficam sob os cuidados de seu tio, Luke (Nicolaj Coster-Waldau), e da namorada dele, Annabel (Jessica Chastain), após serem encontradas em uma floresta cinco anos depois de terem desaparecido com seu pai. O problema é que durante esse tempo as meninas ficaram extremamente ligadas a uma figura conhecida como Mama, que acaba vindo ao novo lar delas e assombra Luke e Annabel, que passam a tentar descobrir o que realmente esta acontecendo.
Não é muito fácil pegar uma história que funciona muito bem em um curta e acrescentar elementos a ponto de transformá-la em um longa que seja igualmente interessante (recentemente, Tim Burton não conseguiu fazer grandes coisas em Frankenweenie). No entanto, Andrés Muschietti tem a vantagem de seu filme original não ter uma história para seguir, sendo uma única sequência de terror bem realizada, e que inclusive volta nessa nova versão de maneira não menos envolvente com algumas pequenas mudanças. Sendo assim, vale dizer que a história criada no roteiro prende a atenção para que acompanhemos o desenrolar de tudo o que acontece e fiquemos curiosos com relação ao destino dos personagens.
Mas quando tenta assustar, Muschietti investe muito na velha cartilha de usar efeitos sonoros para fazer o público pular nas cadeiras do cinema (quase todas as aparições de Mama, por exemplo, surgem dessa forma), o que acaba se tornando algo aborrecido depois de um tempo. Além disso, em alguns momentos os sustos ficam um tanto previsíveis (como quando um personagem está no fundo do quadro e de repente aparece mais a frente), o que tira um pouco do impacto das cenas. No entanto, o diretor é bem sucedido ao construir uma atmosfera de tensão incômoda que funciona com eficiência ao longo da narrativa (boa parte disso se deve a Mama), algo que ganha a contribuição da fotografia sombria de Antonio Riestra.
Apesar da boa história, o roteiro ainda tem seus problemas. As duas sequências de sonho que surgem ao longo da projeção, e que colocam os protagonistas na direção do que ocorre no terceiro ato da trama, são extremamente forçadas, dando a entender que os roteiristas tiveram preguiça em fazer os personagens chegarem de maneira mais natural a suas descobertas. Sem falar que elas não têm muita lógica, já que é muito difícil acreditar que dessa forma Luke receba uma pista sobre um determinado local e que a Mama revele algo importante para Annabel, além de serem desculpas para tentar incluir alguns sustos bobos e desnecessários. Enquanto isso, a atenção dada a banda de rock de Annabel é tão pouca que isso poderia muito bem ser cortado da história sem causar danos a narrativa, assim como a subtrama envolvendo uma tia das meninas (interpretada por Jane Moffat) que acredita estar muito mais apta a cuidar delas do que o casal principal.
Quanto ao elenco, a bela e talentosa Jessica Chastain (exibindo um visual completamente diferente do que mostrou até então) não chega a convencer como uma jovem roqueira, mas se sai muito melhor quando o roteiro passa a se concentrar no crescimento de Annabel como uma figura materna, algo que a personagem evita ao máximo inicialmente. Já Nicolaj Coster-Waldau faz de Luke um personagem carismático, muito diferente do Jaime Lannister que o ator interpreta na série Game of Thrones. Enquanto isso, as pequenas Michelle Charpentier e Isabelle Nélisse se saem relativamente bem nos papéis de Victoria e Lily, surgindo apropriadamente sinistras.
Mama pode não ser um filme memorável ou tão bom quanto o curta original, mas pelo menos consegue ser interessante o bastante para não ser uma dessas aborrecidas produções de terror.
Cotação:

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Roger Ebert (1942-2013)

Hoje é um dia muito triste para o Cinema. O crítico americano Roger Ebert faleceu aos 70 anos devido um câncer. A notícia chega como um choque, já que há dois dias o próprio Ebert havia falado em seu blog sobre o retorno da doença que o deixou bastante debilitado há alguns anos, e que ele continuaria escrevendo críticas e outras publicações ao mesmo tempo em que iria mais uma vez lutar para se ver curado.
Conhecido por seus “thumbs up” e “thumbs down” (polegares para cima e para baixo, que marcavam suas críticas), Roger Ebert foi crítico de cinema do jornal Chicago Sun-Times desde 1967 e ganhou o prêmio Pulitzer em 1975 (foi o primeiro crítico de cinema a conseguir tal feito). Ebert sempre foi um escritor admirável. Sua opinião sobre os filmes era algo bacana de se acompanhar mesmo quando discordássemos de seus argumentos.
Particularmente, depois de escrever minhas críticas, sempre procuro ver os textos de outras pessoas, e Ebert era um dos primeiros cujas palavras eu fazia questão de ler, porque elas representam um aprendizado delicioso sobre Cinema. Gostaria muito de ter acompanhado sua carreira por mais tempo. Comecei a ler seus textos há uns 3 anos, mas foi o suficiente para que ele se tornasse um grande ídolo. E saber que ele nunca mais colocará seu brilhantismo em novos textos é algo absolutamente lamentável e difícil de aceitar.
Perdemos um verdadeiro Mestre, mas sua obra certamente continuará sendo uma fonte preciosa de conhecimento para pessoas que quiserem saber mais sobre a arte que ele tanto amava.
Descanse em paz, Sr. Ebert.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ônibus 174

O sequestro do ônibus 174 no dia 12 de junho de 2000 é um dos eventos mais trágicos que aconteceram no Brasil na última década. Virou apenas mais um exemplo de como a violência esta impregnada na sociedade, enquanto ficamos sem fazer nada para mudar esse quadro (às vezes por impotência, outras por pura negligência). Mas por que jovens como Sandro do Nascimento (responsável pelo sequestro) caem em uma vida de crimes? Por que tragédias como a do ônibus 174 acabam acontecendo? E mais, há como impedir que elas aconteçam? José Padilha (hoje conhecido como o diretor dos excelentes Tropa de Elite 1 e 2) toca nessas questões de maneira impactante neste seu filme de estreia, o documentário Ônibus 174.
Quando alguém aparece assaltando um ônibus e mantendo vários reféns, a primeira coisa que a grande maioria da população faz é classificar o indivíduo como um monstro, uma figura que merece morrer por fazer pessoas sofrerem durante horas e horas. São poucos os que chegam a pensar em como alguém como Sandro entrou naquela situação. Sendo assim, Padilha é inteligente ao estruturar seu filme de maneira que possamos acompanhar o assalto ao mesmo tempo em que a história de Sandro é contada, intercalando depoimentos tanto de reféns e policiais que estiveram presentes no caso quanto de pessoas que conheceram o jovem (e a montagem de Felipe Lacerda merece créditos por amarrar muito bem o filme, nunca quebrando seu ritmo envolvente).
É então que conhecemos um garoto que teve sua mãe degolada na sua frente quando ele era criança, sobreviveu à chacina da Candelária em 1993 (quando policiais militares executaram meninos que dormiam próximo a Igreja da Candelária), e viveu nas ruas sem maiores cuidados, nunca tendo chances de realmente construir uma vida. Tudo isso somado a desigualdade social e ao preconceito da sociedade acaba fazendo o garoto estourar de alguma forma. No caso de Sandro, estourou para o lado do crime, e ao sequestrar aquele ônibus ele deixou de ser uma figura “invisível” e se tornou o protagonista da história.
Padilha mostra em Ônibus 174 que Sandro é, no fim, algo que a própria sociedade ajudou a criar. E não deixa de ser triste ver um rapaz que dizia que ia ser conhecido no mundo inteiro (o que é revelado em um depoimento da tia dele) alcançar esse objetivo de maneira tão implacável. O sequestro foi transmitido ao vivo por várias emissoras, inclusive pela CNN. Isso de certa forma impediu algumas ações da polícia, que teve medo de fazer alguma coisa contra Sandro em plena rede nacional, o que poderia salvar os reféns, inclusive a professora Geísa Gonçalves, que no final da história foi morta junto com o sequestrador. Mas vale ressaltar que essas imagens de arquivo se tornam um material precioso nas mãos de Padilha, que assim consegue retratar eficientemente toda a tensão em volta do ônibus nos mínimos detalhes. Em determinado momento, por exemplo, vemos uma ação do Capitão André Batista (do BOPE) ao mesmo tempo em que ele explica o que exatamente estava fazendo.
Já que mencionei a polícia, José Padilha faz questão de mostrar o despreparo desses homens para casos extremos como esse. Aliás, não só o despreparo, mas também as limitações que eles enfrentavam, já que a falta de certos equipamentos (como rádios para comunicação) os prejudicou muito, e sempre que o comandante estava prestes a dar uma ordem importante ele era parado por uma pessoa em um cargo superior. Quando finalmente alguém fez alguma coisa, foi de maneira precipitada, o que custou vidas. Mas o que é bastante decepcionante é ver que mesmo depois de uma situação como essa, tal despreparo ainda existe, como podemos ver no caso em que a jovem Eloá Cristina foi mantida presa em seu apartamento pelo namorado, sendo assassinada por ele após a polícia invadir o local de maneira extremamente displicente.
Em 2008, a história de Sandro do Nascimento rendeu um filme de ficção, Última Parada 174, dirigido por Bruno Barreto. Mas aquela produção não chega aos pés do que José Padilha faz em Ônibus 174. No final desse documentário, é muito triste constatar que ele continua sendo incrivelmente atual, mostrando que o Brasil parece ter parado no tempo. A violência se mantém como uma praga incontrolável, enquanto vários jovens continuam caindo na criminalidade.
Cotação: