quarta-feira, 30 de maio de 2012

Branca de Neve e o Caçador

Os estúdios investem demais em fórmulas que geralmente começam bem, trazendo muito dinheiro, mas que se perdem pouco depois. O sucesso de Transformers trouxe G.I. Joe: A Origem de Cobra e o recente Battleship: A Batalha dos Mares aos cinemas. E depois de Alice no País das Maravilhas, todos parecem ter pensado que seria uma boa ideia fazer releituras de contos infantis, como fizeram em A Garota da Capa Vermelha, Espelho, Espelho Meu e agora Branca de Neve e o Caçador (e há planos para muitos outros). Mas apesar de não ser terrível como o filme da Chapeuzinho Vermelho de Amanda Seyfried, essa nova produção com a Branca de Neve tem problemas graves e pouco surpreende, desperdiçando um elenco com alguns nomes bastante interessantes.
Escrito a seis mãos por Evan Dougherty, John Lee Hancock e Hossein Amini, Branca de Neve e o Caçador é até fiel a história original no começo. A princesa Branca de Neve (Kristen Stewart) é considerada a única pessoa mais bela do que a rainha Ravenna (Charlize Theron), que a mantém prisioneira desde criança. Ao saber desse detalhe, a rainha decide matar Branca de Neve para que então possa ser imortal, mas a princesa consegue fugir antes que isso aconteça. Ravenna entrega para o Caçador (Chris Hemsworth) a tarefa de trazer a garota de volta, mas ele acaba ficando contra a rainha, virando um protetor da princesa e ajudando-a na batalha para salvar o reino.
Ao tentar mostrar a tristeza e a pobreza do povo que vive no reino de Ravenna e de tudo que se encontra em volta dela, o diretor Rupert Sanders (em seu primeiro trabalho com cinema de modo geral) acerta ao investir em um design de produção que faz tudo parecer bastante precário, com exceção do castelo da rainha. Essa melancolia presente no filme ainda é muito bem ressaltada pela direção de arte, que predominantemente usa cores escuras nos cenários, e a fotografia apropriadamente acinzentada de Greig Fraser, o que deixa o universo do filme parecido com um pesadelo.
Os acontecimentos básicos da obra original são mantidos, mas feitos de maneira diferente pelo roteiro, o que os torna interessantes. Por exemplo, o Caçador ganha um motivo pessoal para ir atrás de Branca de Neve, ao invés de ser apenas enviado pela rainha. No entanto, isso não impede que a história seja previsível, pois todos conhecem o conto. Além disso, o roteiro em vários momentos usa diálogos explicativos, como se fosse preciso repetir algumas coisas para que o público possa acompanhar a história, além de começar com a narração em off até desnecessária do Caçador e que é simplesmente abandonada pouco depois.
A parte central da história já é falha por natureza. Apesar de não ser feia (pelo menos para mim), só em filme para que a Bella Swan da “saga” Crepúsculo possa ser considerada mais bonita do que Charlize Theron. E se usei o nome da personagem ao invés do da atriz, isso se deve ao fato de Kristen Stewart interpretar Branca de Neve seguindo o mesmo modus operandi visto naquela franquia insossa. Inexpressiva e fazendo caras de quem comeu algo e não gostou, Stewart transforma Branca de Neve em uma personagem vazia, que não esboça um pouco de felicidade nem em momentos mais descontraídos, como em uma dança com os famosos anões. Isso torna a protagonista uma figura desinteressante e é difícil acreditar que ela seja o centro das atenções do filme.
No resto do elenco, Charlize Theron surge com um péssimo sotaque britânico, interpretando uma personagem que a todo momento tenta se mostrar ameaçadora, seja no modo como fala ou usando seus poderes maléficos. Mas, na verdade, Ravenna é a típica vilã que quer se vingar do passado, e para isso se torna uma pessoa pior do que àquelas que lhe fizeram mal. E se os anões não ganham o espaço que mereciam (considerando o fato de que ótimos atores como Ray Winstone, Ian McShane, Bob Hoskins e Toby Jones os interpretam), Chris Hemsworth consegue se salvar ao emprestar seu carisma habitual ao Caçador, personagem que tem um arco dramático de redenção um tanto clichê.
Não sei se Branca de Neve e o Caçador chega a ser melhor ou pior do que seu irmão Espelho, Espelho Meu, já que não assisti a esta versão estrelada por Lily Collins e Julia Roberts. Mas certamente é um filme que tinha uma ideia interessante que acabou sendo desperdiçada.
Cotação:

domingo, 27 de maio de 2012

Michael Haneke leva Palma de Ouro no Festival de Cannes

Foram anunciados hoje os ganhadores do Festival de Cannes deste ano. O diretor austríaco Michael Haneke levou a Palma de Ouro por seu novo filme, Amour. Ele já havia recebido o prêmio por A Fita Branca, em 2009, além de já ter sido agraciado pelo festival em 2005, quando ganhou Melhor Diretor por Caché, e em 2001 quando recebeu o grande prêmio do júri por A Professora de Piano. O mexicano Carlos Reygadas venceu Melhor Diretor por Post Tenebras Lux, enquanto que Mads Mikkelsen (o Le Chiffre de 007: Cassino Royale) ganhou Melhor Ator por The Hunt e Cosmina Stratan e Cristina Flutur dividiram o prêmio de Melhor Atriz por Beyond the Hills, que levou também o prêmio de Melhor Roteiro.
Abaixo você confere a lista completa de vencedores.
Palma de Ouro: Amour, de Michael Haneke
Grande Prêmio do Júri: Reality, de Matteo Garrone
Melhor Diretor: Carlos Reygadas, por Post Tenebras Lux
Melhor Ator: Mads Mikkelsen por The Hunt, de Thomas Vinterberg
Melhor Atriz: Cosmina Stratan e Cristina Flutur por Beyond the Hills, de Cristian Mungiu
Melhor Roteiro: Beyond the Hills, de Cristian Mungiu
Caméra d’Or: Beasts of the Southern Wild, de Behn Zeitlin
Prêmio do Júri: The Angel’s Share, de Ken Loach
Melhor Curta-Metragem: Silence, de L. Rezan Yesilbas

quarta-feira, 23 de maio de 2012

MIB: Homens de Preto 3

Misturando ficção científica com bons toques de comédia, a franquia Homens de Preto sempre se destacou por ter um universo interessantíssimo e fazer graça mostrando que as coisas mais comuns do nosso mundo são na verdade alienígenas (desde celebridades até míseros insetos). Se o primeiro filme divertia ao mesmo tempo em que conseguia apresentar seus principais elementos eficientemente, o segundo já não contava com uma história tão interessante e seus personagens não conseguiam ser tão engraçados, resultando em um filme fraco e decepcionante. Agora, dez anos depois de os agentes J (Will Smith) e K (Tommy Lee Jones) aparecerem na tela grande pela última vez, temos Homens de Preto 3, produção que retoma muito bem o nível do primeiro filme no que diz respeito a diversão e história.
Escrito por Etan Cohen, baseado mais uma vez nos quadrinhos criados por Lowel Cunningham, Homens de Preto 3 traz J e K enfrentando um velho inimigo do veterano agente da MIB: o temível Boris, o Animal (Jemaine Clement). Depois de escapar uma prisão localizada na Lua, onde estava encarcerado por 40 anos, Boris planeja voltar no tempo e matar o jovem K (Josh Brolin) antes que este possa prendê-lo e salvar a Terra. Com o plano devidamente executado, terríveis mudanças acontecem no presente e cabe a J ir até 1969 e resgatar seu parceiro antes que seja tarde demais.
Apresentando primeiro o vilão do filme, o roteiro já consegue impor um grande perigo que nos fará temer pelo que acontecerá com os protagonistas. Boris mostra ser uma figura ameaçadora logo nos primeiros minutos em que aparece, tornando-se um vilão tão interessante quanto aquele interpretado por Vincent D’Onofrio no primeiro Homens de Preto. A própria caracterização do personagem deixa claro que este é um ser que ninguém deveria provocar. E Jemaine Clement surpreende ao não deixar a ótima maquiagem atrapalhar seu trabalho, soando perigoso mesmo quando diz uma fala tão simples como “Você me completa!”.
Um filme que usa como elemento viagem no tempo precisa ter uma história bem amarrada e que não tenha furos facilmente perceptíveis. Nesse sentido, Homens de Preto 3 é bem sucedido. O roteiro consegue deixar claro como tudo funciona, apesar de usar diálogos explicativos criados claramente para explicar a trama. A transição do presente para o passado ainda é muito bem feita pelo diretor Barry Sonnenfeld, que chega a brincar com as diferenças entre a MIB e o “mundo normal”. Se a tecnologia da agência sempre esteve à frente do nosso tempo, o mesmo vale para o que ela era antigamente. Por exemplo, para os agentes da MIB, celulares já existiam (em seu formato gigante) na década de 1960 e a versão portátil dos neuralizadores ainda precisava de bateria, o que é interessante e mantém a lógica do universo de Homens de Preto.
Repetindo algo típico dos filmes da franquia, Homens de Preto 3 não perde a chance de divertir ao colocar várias celebridades como sendo alienígenas monitorados pela MIB (acredito que alguns dos rostos que aparecem nos televisores da agência não serão surpresa pra ninguém). O lado cômico do filme, aliás, brilha muito mais com os personagens do que propriamente com as piadas. Mas vale dizer que o roteiro tem algumas grandes sacadas, destaque para as cenas envolvendo uma criança no colo da mãe e a outra na qual J discute com alguns policiais quanto a um carro roubado.
Voltando a interpretar um dos papeis que o transformou no astro que conhecemos hoje, Will Smith aparece carismático como de costume. É interessante ver que o Agente J está devidamente mais maduro e experiente, não se atrapalhando tanto nas missões ou fazendo grandes discursos na hora de usar o neuralizador. Uma pena, no entanto, que Smith não consiga ser tão engraçado como já mostrou em outras oportunidades, desde a série The Fresh Prince of Bel Air até a própria franquia Homens de Preto (pelo menos o primeiro filme). Já Tommy Lee Jones tem uma boa presença em cena e volta a divertir com a seriedade de seu Agente K.
Mas do trio principal, surpreendentemente, o grande destaque fica a cargo de Josh Brolin. O ator convence muito bem como uma versão mais jovem de Tommy Lee Jones, desde o modo como se move em cena até o jeito texano como fala. Sendo o jovem Agente K muito mais descontraído e alegre do que a versão mais velha, Brolin cria um personagem interessante e que nos faz pensar o que aconteceu na vida do personagem para ele se tornar um cara tão sério e que não gosta muito de mostrar seus sentimentos. Além disso, a ótima química entre ele e Will Smith surge instantaneamente, como se os atores já tivessem trabalhado juntos.
Levando a sério o fato de um detalhe insignificante poder causar um grande estrago, Homens de Preto 3 consegue divertir do início ao fim. É bom ver uma franquia interessante voltar a ter uma produção de qualidade.
Cotação:

domingo, 20 de maio de 2012

A Centopeia Humana 2

Quando o diretor holandês Tom Six fez A Centopeia Humana, seu único propósito parecia ser chocar o público com sua ideia bizarra. A história trazia um cirurgião louco (interpretado por Dieter Laiser) que tem como grande projeto pegar três pessoas e costura-las pela boca e pelo ânus, fazendo a centopeia do título. É um filme que procura assustar com a possiblidade de que tal experiência poderia mesmo ser feita na vida real além de contar com uma violência exagerada, mas que não chega a ser pior que a de outros filmes de terror, como a franquia Jogos Mortais. Agora, Tom Six retorna com A Centopeia Humana 2, se preocupando mais uma vez em tentar fazer algum espectador vomitar do que propriamente fazer um filme de terror interessante.
Escrito pelo próprio diretor, A Centopeia Humana 2 nos apresenta a Martin (Lawrence R. Harvey), um segurança de estacionamento que é absolutamente obcecado pelo primeiro A Centopeia Humana. A obsessão é tão grande que Martin planeja fazer sua própria centopeia humana. Mas seu projeto é maior do que aquele visto no filme, tendo doze partes ao invés de três. Atacando várias pessoas no estacionamento, Martin aos poucos monta sua obra bizarra, que inclui até mesmo Ashlynn Yennie (uma das atrizes do primeiro filme, e que aqui interpreta “a si mesma”).
Usando a metalinguagem como parte de sua narrativa, A Centopeia Humana 2 tenta assombrar com a possibilidade de alguém na vida real desejar torturar um semelhante da maneira vista no primeiro filme. Isso revela um pouco de presunção por parte de Tom Six, como se ele achasse que seu filme foi uma obra marcante a ponto de afetar bastante alguém mentalmente problemático, quando na verdade ele não fez nada demais (como eu disse, Jogos Mortais era mais violento). Neste segundo filme, Six faz de tudo para impressionar o público com cenas graficamente nojentas e repulsivas, tentando deixar tudo ainda mais assombroso através da fotografia em preto e branco. Mas apesar de essas cores geralmente trazerem um tom muito mais cru e sombrio, aqui elas não acrescentam nada ao que se vê na história, tendo o mesmo efeito que uma fotografia colorida poderia trazer.
Se o Dr. Heiter já era insano, em A Centopeia Humana 2 temos um protagonista que ultrapassa os limites da loucura. Martin é um ser humano que se torna cada vez mais repugnante à medida que o conhecemos. Com um olhar que já revela uma natureza problemática, esta é uma pessoa que qualquer um manteria distância se visse na rua. O roteiro procura justificar os atos do protagonista, mostrando que tudo é culpa daquilo que está a sua volta, como a mãe louca (interpretada por Vivien Bridson). Isso poderia fazer com que o público sentisse algum tipo de pena ou pelo menos torcesse por ele ao longo do filme, até porque a maioria das vítimas são pessoas desprezíveis. Mas Martin é um personagem estranho e repulsivo demais. Quando está sozinho, ele mostra sua obsessão através dos jeitos mais absurdos possíveis, o que inclui até se masturbar usando uma lixa de vidraceiro enquanto assiste A Centopeia Humana em seu computador. O estreante Lawrence R. Harvey parece ter sido escolhido a dedo por Tom Six e quando atua se saí mal. Sem falar uma única palavra ao longo do filme, Harvey solta vários gritinhos que em alguns momentos soam irritantes e em outros causam risos involuntários.
O diretor tenta chocar o público com tudo o que pode e a violência é sim pior do que aquela vista no primeiro filme. Antes, tínhamos um cirurgião, que sabia exatamente o que fazer para tornar sua experiência possível. Agora, temos um mero segurança, então há uma grande diferença no modo como as coisas acontecem em cena. Mas quase tudo é uma repetição do que já havia sido mostrado anteriormente, sendo a única exceção o momento em que Martin quebra os dentes de suas vítimas. Essa repetição é o que faz com que as cenas não sejam tão chocantes como o diretor gostaria que elas fossem. Aliás, Tom Six parece ter uma grande paixão pela própria ideia, já que tem várias oportunidades para fazer cenas violentas, como nos ataques feitos por Martin, mas as únicas que não são “censuradas” são exatamente as que envolvem a centopeia.
O que impressiona muito mais do que as cenas de violência é o fato de Tom Six escrever o roteiro de modo que tudo se encaixe perfeitamente no plano de seu protagonista e em seus próprios planos para surpreender o público com sua história. Martin ataca todas as vítimas no estacionamento, é filmado por todas as câmeras possíveis, mas ninguém vê ou ouve nada do que está acontecendo. O personagem tem problemas mentais e de saúde, mas ainda assim conseguiu um emprego de segurança, o que é no mínimo estranho. O psicólogo de Martin diz que não há nada com o que se preocupar com ele, o que me faz pensar que este é o pior psicólogo da face da Terra. Quer dizer, são elementos absurdos demais e que impedem um mergulho maior na história.
Tendo um final ambíguo e que dependendo do ponto de vista é clichê ou absurdo demais, A Centopeia Humana 2 talvez seria um pouco melhor se Tom Six não levasse tudo tão a sério. E ele já está preparando A Centopeia Humana 3. Será que tem como ficar pior?
Cotação:

terça-feira, 15 de maio de 2012

Personagens Marcantes - Freddy Krueger

Se há um subgênero que gosto muito de assistir é o dos slasher movies. Trazendo um assassino que persegue e mata os protagonistas um de cada vez, estes filmes geralmente divertem mesmo quando se trata de uma obra muito ruim. Repito, geralmente. Assim como as comédias românticas, os slasher movies se envolvem muito com clichês. Ver um personagem subindo as escadas ao invés de sair pela porta da frente da casa pode ser engraçado ou extremamente irritante. Muitas vezes, os assassinos são os que acabam ganhando a torcida do público, seja porque os personagens principais conseguem ultrapassar o limite de aborrecimento, ou porque os próprios vilões conseguem ser muito mais interessantes com suas maldades. É o caso de Freddy Krueger.
Criado por Wes Craven para ser o antagonista de A Hora do Pesadelo, Freddy foi interpretado por Robert Englund em sete filmes da franquia, além do encontro com Jason Vorhees (Sexta-Feira 13) em Freddy vs. Jason. Usando uma luva com uma lâmina em cada dedo e tendo um rosto desfigurado pelas queimaduras que teve no incêndio que o matou quando era humano, Freddy é uma figura horripilante por natureza. O conceito do personagem por si só já é muito interessante. Muitas pessoas, especialmente crianças, tem medo de ir dormir por causa do bicho-papão. Freddy se encaixa perfeitamente nessa descrição, atacando suas vítimas no momento mais vulnerável: enquanto elas estão dormindo.
A história de Freddy Krueger é muito simples (e é repetida em todos os filmes da franquia A Hora do Pesadelo, o que se torna algo um tanto irritante a partir da quarta parte). Ele foi preso por ser um assassino de crianças, mas um problema (se me lembro bem, foi a falta de provas) o soltou. Isso fez os pais das crianças da cidade tomarem uma atitude: prendê-lo em um casebre e colocar fogo no local, queimando-o até a morte.
Vendo os filmes, percebe-se que Freddy é o assassino mais criativo entre os vários vilões de slasher movies, uma galeria que inclui, além de Jason Vorhees, nomes como Michael Myers (Halloween), Ghostface (Pânico) e Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica). Freddy faz jogos oníricos muito interessantes com suas vítimas. No primeiro A Hora do Pesadelo, por exemplo, a personagem de Heather Langenkamp tenta subir as escadas, mas os degraus começam a se desfazer, fazendo a se locomover aos poucos. No mesmo filme, Johnny Depp é “engolido” por sua própria cama. E em A Hora do Pesadelo 3: Guerreiros dos Sonhos (o segundo melhor da franquia, que perde apenas para o primeiro capítulo), ele usa o fato de um personagem mexer com bonecos como inspiração na hora de mata-lo.
É uma pena, no entanto, que a partir do quarto filme a franquia A Hora do Pesadelo tenha caído no “terrir”. Desse modo, o que se vê é um Freddy brincalhão, que chega a jogar videogame usando uma de suas vítimas e dando um golpe de frigideira em Johnny Depp (que fez uma ponta no sexto filme). Tudo bem que são momentos até divertidos, mas decepcionantes diante da atmosfera tensa vista nos capítulos anteriores (com exceção de A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy, o segundo mais fraco da franquia). Mas tudo voltou ao normal no sétimo e último capítulo, O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy, no qual Wes Craven ainda faz um belo uso de metalinguagem, algo que o diretor voltaria a utilizar na franquia Pânico.
Jackie Earle Haley assumiu o papel de Freddy na refilmagem de 2010. Apesar de ser um ótimo ator, ele teve um desempenho decepcionante em um filme fraquíssimo (assim como quase todas as refilmagens de clássicos de slasher movies), provando que Robert Englund é o rosto definitivo do vilão. E devo dizer que seria bom ver Freddy Krueger ser interpretado novamente pelo ator que o transformou em um personagem tão interessante.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Battleship: A Batalha dos Mares

Com o estrondoso sucesso financeiro da franquia Transformers (cuja primeira parte é algo assistível, enquanto as outras duas são grandes desastres), os estúdios encontraram em linhas de brinquedos uma boa fonte para ganhar dinheiro. Na verdade, Hollywood investiria 100 milhões de dólares na história de um feijão se isso tivesse alguma chance de arrecadar uma boa bilheteria. Depois de G.I. Joe: A Origem de Cobra (aliás, outro filme ruim) ter vindo para as telonas como um fruto do sucesso dos robôs alienígenas de Michael Bay, mais um brinquedo chega aos cinemas: o famoso jogo de batalha naval. Mas é impressionante como Battleship: A Batalha dos Mares consegue ser tão desastroso quanto os outros filmes citados neste parágrafo.
Escrito por Erich e Jon Hoeber, Battleship mostra que a NASA está analisando um planeta com clima parecido com o da Terra. Enquanto isso, somos apresentados a Alex Hopper (Taylor Kitsch), jovem imaturo que se apaixona por Samantha (Brooklyn Decker). Ele descobre que ela é filha do Almirante Shane (Liam Nesson), o superior de seu irmão, Stone (Alexander Skarsgård), que fica irritado com toda a situação. Para que Alex possa tomar juízo, Stone o obriga a se juntar a ele na Marinha. Algum tempo depois, os seres do tal planeta resolvem atacar e, devido a certos incidentes, Alex se encontra no papel de líder de um grupo que terá como único objetivo impedir que esses alienígenas enviem um sinal para que a Terra seja invadida por mais seres extraterrestres.
Quando apresenta seu protagonista, o diretor Peter Berg (o mesmo de Tudo Pela Vitória e Hancock) consegue fazer uma cena tão constrangedora quanto um filme de Adam Sandler. Procurando tirar algumas risadas do público, o cineasta mostra Alex invadindo uma loja atrás de um burrito, tentando dessa forma conquistar Sam. Com a trilha de A Pantera Cor de Rosa no fundo, vemos tudo através de câmeras de segurança, enquanto várias coisas dão errado. No entanto, isso não soa em nenhum momento como algo engraçado, e sim ridículo. Tudo fica ainda pior quando a situação resulta na garota caindo nas graças do rapaz.
Mas Battleship não se importa muito com seus personagens. Os roteiristas não chegam a se preocupar com o desenvolvimento das figuras que passam pela tela. Nem mesmo criam algum arco dramático interessante o bastante para que torçamos por eles ao longo da projeção. Nesse sentido, o filme não se diferencia muito de Transformers, sendo repleto de personagens desinteressantes e, às vezes, irritantes. Alex, por exemplo, inicia o filme sendo alguém irresponsável, sem objetivo na vida e que não leva nada a sério. Apesar de lidar com grandes tarefas ao longo da história, ele não muda muito sua personalidade, dizendo bobagens em meio às estratégias de combate, como o fato de não entender A Arte da Guerra, mesmo tendo lido o livro seis vezes.
Nem os alienígenas ganham um pouco de atenção. Eles parecem querer invadir a Terra sem motivo aparente (pelo visto eles não gostaram dos terráqueos futricando seu jardim) e ainda são bastante seletivos quanto ao que vão atacar, mirando apenas naquilo que é ameaçador, poupando a vida de vários humanos que aparecem em sua frente. Seguindo essa lógica, isso me fez pensar em certo momento: o que uma ponte estaria fazendo de tão perigoso para que precise ser destruída?
O roteiro tenta constantemente fazer graça, mas sempre em um momento inapropriado ou usando piadas sem o menor sinal de inteligência, como quando Sam e seu paciente, o soldado aposentado Mick (Gregory D. Gadson), encontram o cientista Cal Zapata (Hamish Linklater) e este pergunta desesperadamente “Ele também é um ciborgue?”, referindo-se ao estado no qual o veterano se encontra. Mas aparentemente, os roteiristas acharam que estavam sendo muito engraçados, já que eles chegam a incluir uma mesma piada duas vezes durante o filme (aquela em que um palavrão é interrompido por uma explosão, algo nem um pouco original, aliás).
Se o filme não conta com um roteiro competente, pelo menos poderia consertar alguma coisa no quesito ação. Mas Peter Berg não brilha em nenhum momento, investindo em cenas burocráticas, que consistem basicamente em alienígenas atirando mísseis, humanos se defendendo e atirando de volta, torcendo para que seus adversários sejam destruídos. Se isso já é algo que torna a narrativa arrastada, o roteiro trata de contribuir um pouco mais para isso, envolvendo algumas dessas cenas em diálogos longos e clichês como “Vamos morrer. Eu vou morrer. Você vai morrer. Todos nós vamos morrer. Mas não hoje!”. Nem o bom gosto musical do diretor (ele chega a incluir duas músicas de AC/DC ao longo do filme) consegue trazer alguma energia para a história. Berg dirige Battleship como se esse fosse um grande filme, quando na verdade não é nada demais.
Quanto ao elenco, não há muita coisa para destacar. Taylor Kitsch surge inexpressivo em sua segunda chance como protagonista esse ano (a primeira foi em John Carter), enquanto que Alexander Skargård não tem muito espaço para seu personagem. E se Brooklyn Decker surge mais para embelezar suas cenas do que para qualquer outra coisa, Liam Neeson (que vem fazendo apenas filmes de ação de qualidade duvidosa) começa a mostrar que parece estar precisando muito de dinheiro. Em Battleship, o ator interpreta um personagem que é praticamente ignorado pelo roteiro durante as mais de duas horas de filme, tendo no máximo dez minutos de tempo em tela.
Battleship parece provar que os brinquedos devem ficar apenas nas mãos de crianças, e nãos nas de Hollywood. Espero que o filme não vá muito bem de bilheteria. Seria uma tristeza ter que aguentar uma continuação para essa bomba.
Obs.: Há uma cena depois dos créditos finais.
Cotação:

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Piratas Pirados!

As animações do estúdio britânico Aardman sempre chamam a atenção por suas divertidas gags que permeiam as histórias interessantes de seus filmes, que sempre contam com personagens muito carismáticos. É fácil perceber isso na vasta produção de curtas-metragens que esse grupo já fez, sendo que vários deles são protagonizados pelos belos personagens Wallace e Gromit. Desde 2000, quando fechou uma parceria com a Dreamworks para poder fazer longas-metragens, a Aardman vem lançando filmes muito divertidos, começando por A Fuga das Galinhas, passando por Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais e Por Água Abaixo, e chegando a Operação Presente (este último já em parceria com a Sony Pictures, que resgatou o estúdio depois do fim do contrato com a Dreamworks e o fracasso de bilheteria de Por Água Abaixo). Agora, a Aardman lança Piratas Pirados!, mais uma animação que diverte com suas piadas inteligentes e personagens “sem noção”.
Escrito por Gideon Defoe, Piratas Pirados! acompanha a tripulação liderada pelo Capitão Pirata (voz de Hugh Grant na versão original), homem que sonha em vencer o grande prêmio de Pirata do Ano. O problema é que seus feitos nem se comparam com a de seus rivais, o que o faz ser tachado de fracassado por quase toda comunidade pirata. Ao encontrar Charles Darwin (sim, o famoso cientista, que aqui é dublado por David Tennant), Capitão Pirata descobre que seu “papagaio”, Polly, é uma ave raríssima e que certamente pode vencer o prêmio de Descoberta Científica do Ano. Com o pensamento de que a premiação pode lhe render o reconhecimento que tanto deseja dos “colegas”, o Capitão e sua trupe vão para Londres, território da rainha Vitória (voz de Imelda Staunton), famosa por odiar piratas mais do que tudo.
Com um visual que lembra Piratas do Caribe, Piratas Pirados! estabelece os dois lados da trama muito bem além de criar um belo contraste entre eles. De um lado temos a rainha Vitória, que fica extremamente irritada só de ouvir a palavra “pirata” e surge sempre com um apropriado ar de superioridade, mas nunca chega a soar engraçada. Do outro temos o Capitão Pirata e o resto de sua tripulação, que aparecem carismáticos e engraçados do início ao fim e em alguns momentos ainda mostram não ser muito inteligentes (como ao atacar vários barcos “errados”, em uma das sequências mais hilárias do filme), o que só os deixa mais interessantes.
Mostrando grande criatividade, o roteiro consegue colocar com eficiência elementos modernos em uma narrativa que se passa em 1837. Isso tem um enfoque maior nos veículos dos personagens. Em um momento, vemos o Capitão Pirata literalmente estacionar seu navio, fazendo até manobras para coloca-lo em uma melhor posição. Outro exemplo é o fato de os piratas se referirem aos cientistas em Londres como “nerds”. São momentos que conseguem ser engraçados exatamente por não haver possibilidade de eles existirem na época em questão. Além disso, é interessante o modo como figuras reais são misturadas com ficção. Se a grande vilã do filme já é a rainha Vitória e Charles Darwin aparece com seus experimentos, o roteiro ainda encontra um pequeno espaço para Jane Austen, colocando-a bebendo e rindo ao lado do Capitão Pirata, que conta várias histórias para a escritora.
Os diretores Peter Lord (um dos fundadores da Aardman) e Jeff Newitt demonstram um timing muito bom, fazendo pausas cômicas pontuais que funcionam na maioria das vezes, como quando o Capitão Pirata fala “Podem rir à vontade” e os personagens a sua volta realmente começam a rir. Lord e Newitt ainda brincam com elementos do próprio cinema, como ao colocar o macaco ajudante de Charles Darwin tocando a trilha sonora de 2001: Uma Odisseia no Espaço. As viagens que os personagens fazem ao longo do filme também chamam a atenção por trazê-los jogando pratos vermelhos no mar à medida que se deslocam, o que diverte por serem na verdade as marcações nas famosas montagens com mapas, tão comuns em filmes de aventura, como a franquia Indiana Jones.
Piratas Pirados! não tira risadas só com suas belas gags, mas também com seus personagens. Se o Capitão Pirata diverte com suas habilidades, sejam elas a representação de seu fracasso ou não, Charles Darwin aparece engraçado por ser tratado pelo roteiro como um nerd inseguro e com medo de nunca arranjar uma namorada. Já seu macaco rouba algumas cenas por usar várias placas para se comunicar, até mesmo quando pretende gritar.
Piratas Pirados! não se preocupa em ser uma animação focada apenas em seu público-alvo. Na verdade, arrisco dizer que os adultos irão rir mais do que as crianças. A Aardman pode não produzir tantos longas-metragens como outros grandes estúdios, como a Pixar e a Dreamworks, mas seus filmes conseguem divertir tanto quanto.
Cotação:

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Um Homem de Sorte

Não sou muito familiarizado com Nicholas Sparks, autor que está tendo vários de seus livros adaptados para o cinema, dos quais não li nenhum. De todos os filmes baseados em suas obras, os únicos que assisti foram Diário de Uma Paixão, Um Amor Para Recordar, Querido John e este Um Homem de Sorte. Com relação aos dois últimos, as histórias não têm muita originalidade ou ambição e investem em um romance um tanto arrastado entre personagens pouco interessantes. Querido John e Um Homem de Sorte são um pouco parecidos, o que me fez pensar em dado momento que estava assistindo a uma espécie de “Querido John 2” ao entrar na sala para assistir a esta nova produção estrelada por Zac Efron. Essa ilusão acabou algum tempo depois do começo da projeção, mas a conclusão que cheguei ao final dos dois filmes foi exatamente a mesma.
Em Um Homem de Sorte Zac Efron interpreta Logan Thibault, fuzileiro naval que encontra uma foto em meio à guerra, o que o salva de uma grande explosão. Ao voltar para os Estados Unidos, o rapaz decide achar a garota que está na foto, Beth (Taylor Schilling), para agradecer. Ao encontra-la, descobre que o irmão dela morreu na guerra e decide não explicar imediatamente o porquê de estar ali. Ao aceitar por acaso o emprego no canil cuidado por Beth e sua família, Logan começa a passar mais tempo ao lado dela e os dois acabam se apaixonando.
É uma história boba, que parece ter saído direto de uma novela. Muito do que se vê no filme soa muito mais como enrolação para deixar tudo um pouco mais longo, desde situações (como quando Beth quase vê a foto) até diálogos (várias vezes a garota pergunta a Logan porque ele veio até ali, e a resposta é sempre “Para encontra-la”, o que ela simplesmente ignora). Tudo piora graças a previsibilidade do roteiro. No momento que Logan esconde a foto, fica óbvio que aquilo será o motivo de um conflito entre ele e Beth, que resultará na separação momentânea do casal. E quando essa discussão finalmente acontece, soa muito artificial, parecendo que ela é incluída na história única e exclusivamente porque o filme precisa de uma briga entre o casal principal.
As semelhanças de Um Homem de Sorte com Querido John aparecem logo de cara em alguns elementos do filme. Ambas as produções contam com um soldado transtornado como protagonista, que volta ao seu país e inesperadamente se apaixona. Depois que isso é definido, vem as modificações para que as histórias não fiquem iguais. Mas em nenhum momento o roteiro escrito por Will Fetters faz algo realmente novo ou surpreendente.
O diretor Scott Hicks (que já teve dias melhores, como quando foi indicado ao Oscar por Shine: Brilhante) conta com um material muito fraco em mãos para conseguir fazer algo bom. As sequências mais descontraídas (boa parte delas envolvendo o filho e a mãe de Beth, interpretados por Riley Thomas Stewart e Blythe Danner, respectivamente) até conseguem chamar a atenção, mas para cada cena assim há outras duas desinteressantes, como algumas envolvendo Keith (Jay R. Ferguson), o ex-marido de Beth que ocupa um espaço maior do que o necessário. O fato de Hicks ainda investir em uma trilha sonora composta em sua maioria por canções pop enjoativas também não ajuda muito para o envolvimento com a história.
Zac Efron não é um ator dos mais talentosos, e em Um Homem de Sorte ele surge em cena quase sempre inexpressivo, como se um soldado perturbado não pudesse demonstrar muitas emoções. Considerando que Channing Tatum esteve da mesma forma em Querido John, fico pensando se os soldados de Nicholas Sparks obrigatoriamente precisam ser interpretados dessa maneira. Além disso, o roteiro muda o humor de Logan rápido demais. Em uma cena ele se sente deslocado por estar trabalhando com Beth. Na cena seguinte, ele já mostra estar bastante confortável com tudo o que está acontecendo, o que soa muito repentino e estranho. A bela Taylor Schilling se sai um pouco melhor, apesar de contar com uma personagem um tanto aborrecida em algumas cenas. Mas os dois atores até ganham alguns pontos positivos por pelo menos conseguirem criar uma química convincente para o casal principal.
Romances como Um Homem de Sorte não diferem muito das comédias românticas rasteiras e sem muita graça que chegam aos cinemas. Pelo menos em termos de qualidade são exatamente a mesma coisa. Como eu já disse, nunca li os livros de Nicholas Sparks, mas talvez seja melhor que suas histórias fiquem apenas nas estantes. No cinema, elas não estão dando muito certo.
Cotação:

terça-feira, 1 de maio de 2012

Anjos da Lei

As séries de TV são uma grande fonte de histórias para o cinema. Nos últimos anos, tivemos adaptações de várias séries, desde Miami Vice até Esquadrão Classe A, passando por A Feiticeira e Agente 86, sem falar em clássicos como Os Intocáveis ou franquias como Missão Impossível e Jornada nas Estrelas. Este ano, três filmes trazem para o cinema histórias que se originaram na televisão: Sombras da Noite, Os Três Patetas e este Anjos da Lei, baseado na série da década de 1980 que lançou Johnny Depp ao estrelato. Devo dizer que não conheço muito bem o material original, mas o filme Anjos da Lei diverte bastante apesar de ser um tanto formuláico e previsível.
Escrito por Michael Bacall e com argumento feito por ele e pelo protagonista Jonah Hill, Anjos da Lei acompanha Schmidt (Hill) e Jenko (Channing Tatum), dois jovens que se encontravam em lados opostos no colégio. O primeiro era o nerd que não tinha amigos, enquanto que o segundo era o atleta popular. Coincidentemente, eles acabam se encontrando nos testes para a academia de polícia e, como as falhas de um são as qualidades do outro, os dois se tornam amigos. Por ainda parecerem jovens, Schmidt e Jenko são enviados para uma missão na qual devem se infiltrar em um colégio e descobrir quem está fornecendo uma nova droga que está se tornando febre entre os jovens. Surge então uma oportunidade para que os dois não cometam os mesmos erros do passado e possam ganhar o devido reconhecimento de seus colegas policiais.
O tom cômico do filme é estabelecido já nos primeiros minutos de projeção. Investindo em muitas gags envolvendo simulações de sexo e situações com os personagens, Anjos da Lei por vezes soa infantil, como a cena em que os protagonistas prendem um traficante no parque, mas de modo geral consegue arrancar boas risadas quando se concentra em seus personagens, como quando Schmidt e Jenko tentam forçar o vômito um do outro. Boa parte da graça do filme está no modo como os diretores Phil Lord e Chris Miller (responsáveis pela ótima animação Tá Chovendo Hambúrguer) brincam com a expectativa do espectador. Em certo momento, por exemplo, os diretores mostram os pés de várias pessoas em um banheiro, o que parece ser alguma orgia, mas que revela ser algo completamente diferente do que imaginamos.
Lord e Miller fazem sequências de ação bastante eficientes, incluindo perseguições de carros e tiroteios, e o roteiro não se esquece de tentar fazer algo engraçado nessas partes. Quando os protagonistas estão sendo perseguidos por uma gangue de motoqueiros, várias vezes uma explosão parece que vai ocorrer, mas isso acaba acontecendo apenas quando ninguém espera. O uso de câmera lenta também é uma constante nessas cenas, mas claramente parece ser uma sátira ao próprio recurso, tão usado em filmes de ação, às vezes, exageradamente.
O modo como ocorre o desenvolvimento dos personagens chama a atenção por mostrar Schmidt e Jenko trocando identidades e, literalmente, invertendo suas vidas no colégio. Se Schmidt começa a ficar popular entre os colegas, Jenko passa a andar com os nerds. Por um lado, é interessante ver os dois personagens aprendendo como o outro costumava ser e o quanto isso era bom ou ruim. Por outro, traz um conflito previsível entre a dupla e que é quase ignorado depois.
Mas esse, infelizmente, não é o único problema no roteiro de Anjos da Lei. O filme segue uma fórmula básica de histórias envolvendo uma dupla de policiais em uma missão. Ou seja, os protagonistas começam bem as investigações, mas mais tarde vão do céu ao inferno em poucos minutos (o pavoroso As Branquelas é um exemplo desse tipo de filme). Além disso, os diretores insistem em repetir os letreiros das fases pelas quais a droga faz as pessoas passarem (ataque de risos, cara de abobado, falsa confiança e uma loucura final), algo um tanto desnecessário.
A grande força do filme, no entanto, está nos dois protagonistas. Jonah Hill (recém-saído de sua indicação ao Oscar pelo ótimo O Homem Que Mudou o Jogo) e Channing Tatum além de estarem carismáticos em seus papéis, ainda criam uma bela química em cena. Seus personagens se completam e até por isso eles resolvem ser amigos. Individualmente, os dois conseguem fazer muito bem os tipos de seus personagens, sendo Hill o rapaz inseguro (que já interpretou em Superbad) e Tatum o valentão. Entre os coadjuvantes, Dave Franco (irmão de James) se sai razoavelmente bem como o traficante Eric, sendo apropriadamente chato. Mas é mesmo Ice Cube quem chega a roubar a cena interpretando o Capitão Dickson. Sempre irritado e fazendo analogias interessantes (“Vocês estão aqui por serem parecidos com Justin ‘Beaver’ e Miley Cyrus”), Cube consegue criar um personagem divertido, que manda os protagonistas se esforçarem ao máximo na missão.
Trazendo ainda divertidas participações de alguns atores da série original, Anjos da Lei consegue misturar comédia e ação eficientemente. E o mais importante é que consegue fazer isso sem esquecer que seus personagens são mais importantes do que as piadas.
Cotação: