
Nunca me preparei tanto para a estreia de um filme. Antes de ir assistir
A Origem (Inception) eu li a história em quadrinhos The Cobol Job, que mostra o que aconteceu antes da trama do filme, me diverti no jogo Mind Crime e consegui rever todos os outros filmes dirigidos por Christopher Nolan, desde de
Following até
Batman – O Cavaleiro das Trevas. Fiz tudo isso para já me sentir familiarizado com o novo filme que o diretor está apresentando. Toda a minha expectativa foi muito bem recompensada com um dos filmes mais geniais de todos os tempos.
A Origem é o primeiro longa completamente original de Christopher Nolan desde sua estreia em
Following. Depois do sucesso arrasador de
Batman – O Cavaleiro das Trevas, Nolan ganhou o direito de escolher a produção que quisesse dirigir. Optou pelo filme mais ambicioso, que ele devia estar a tempos querendo fazer.
A Origem é um projeto que Nolan começou a desenvolver na época em que estava lançando
Insônia, ou seja, oito anos atrás. Arrisco dizer que
A Origem é para Christopher Nolan o que
Avatar foi para James Cameron (que precisou de quase quinze anos para levar o filme às telas).

Em
A Origem, Christopher Nolan explora o mundo dos sonhos. Dom Cobb é um extrator, um cara especializado em roubar segredos das pessoas enquanto elas estão sonhando. Isso se dá através de uma técnica de compartilhamento de sonhos. Para poder voltar para casa, Cobb aceita um trabalho proposto por Saito: ao invés de roubar, ele deve plantar uma ideia. Isso é chamado de Inserção (Inception, como diz o título original). O alvo é Robert Fisher, herdeiro da empresa rival de Saito. Para plantar a ideia, Cobb monta a sua equipe: Arthur, Ariadne, Eames, Yusuf e o próprio Saito.

Um fato interessante sobre Christopher Nolan é que ele é um diretor que não tem pressa nenhuma para contar as suas histórias. Em
A Origem não é diferente. O diretor sabe que o mundo dos sonhos não é algo que as pessoas dominam. Durante as duas horas e meia de filme (que, por sinal, foram as mais rápidas da minha vida), Nolan explica cada detalhe da trama, não deixando nenhum furo.

Vários elementos dos sonhos são empregados de modo inteligente pelo diretor em seu roteiro genial:
- Quando sonhamos que estamos caindo, inevitavelmente acabamos acordando. Este seria o “chute” que os personagens tanto usam.
- O fato de nós acordarmos depois de morrer no sonho.
- O tempo no sonho é diferente na vida real.
- Nunca lembramos como nossos sonhos começaram.
Algo que também achei muito legal no filme foi a técnica de se defender das invasões nos sonhos. Essa técnica acaba resultando em cenas de ação de tirar o fôlego.

Se Nolan capricha no roteiro, nem preciso falar de seu trabalho na direção, que é simplesmente espetacular. Ele cria cenas incríveis, desde a demolição de um sonho até uma luta que desafia a gravidade. Mas acho que o mais marcante em seu trabalho é o modo como ele consegue transitar entre três sonhos ao mesmo tempo, algo crucial para a história.

Mas
A Origem não teria o mesmo impacto se não tivesse um grande elenco envolvido. Neste quesito, o filme está muito bem servido, pois personagens fascinantes ganham os rostos de atores de primeira, em atuações brilhantes.

Leonardo DiCaprio nos entrega sua segunda grande atuação em 2010 (ele esteve em
Ilha do Medo, no início do ano). Cobb é o melhor na arte de roubar os segredos das pessoas. Ele ainda sofre por ter perdido a esposa, e o único jeito de vê-la é através dos sonhos. O fato de ele correr todos os riscos possíveis para ver seus filhos de novo faz dele um personagem ainda mais fascinante.

Joseph Gordon-Levitt, um ator que admiro desde que estrelou
10 Coisas Que Eu Odeio Em Você, interpreta Arthur, que seria o braço direito de Cobb. Arthur é o cara que cuida dos detalhes da operação, como pesquisar os históricos dos alvos. É também o primeiro a acordar para ter certeza de que tudo está correndo bem.

Ellen Page, uma das atrizes mais promissoras atualmente, interpreta a arquiteta Ariadne. É ela quem constrói o sonho. Cada prédio ou objeto do sonho é ela quem insere. Sendo a novata do grupo, Ariadne tenta saber onde realmente está se metendo, explorando principalmente cada passo de Cobb.

O desconhecido Tom Hardy está excelente no papel do falsificador Eames. O personagem se “transforma” nas pessoas em quem os alvos confiam. Assim, ele pode ganhar informações mais facilmente e também convencer os alvos a fazer certas coisas. Algo engraçado é o relacionamento dele com Arthur, pois os dois parecem competir um com o outro.

Ken Watanabe, que já havia trabalhado com Christopher Nolan em
Batman Begins, interpreta Saito, que é chamado de turista por não ser necessário no grupo. Saito não deveria estar ali. Ele só resolve entrar na brincadeira para ter certeza de que o resto do grupo está fazendo o trabalho pelo qual ele está pagando. Mas durante o filme, se revela um componente essencial.

Marion Cotillard interpreta Mal, a falecida esposa de Cobb que aparece nos sonhos. Ela é apenas uma projeção da mente de Cobb e acaba por atrapalhar os planos do marido. Como o único jeito de Cobb vê-la é através dos sonhos, ele nunca tem coragem de mata-la em seus planos, pois o que ele quer realmente é que a imagem dela seja real e tudo volte a ser como antes.

Cillian Murphy, outro ator que já havia trabalhado com Nolan em
Batman Begins e
Batman – O Cavaleiro das Trevas, interpreta o alvo Robert Fischer. Ele tem um duro relacionamento com o pai, que está prestes a morrer. Fischer acaba por ser um grande desafio para o grupo de Cobb, por que roubar uma ideia é mais fácil do que plantar uma. Além disso, Fisher foi treinado para proteger seus segredos, o que torna o trabalho ainda mais difícil.

O ator Dileep Rao (que apareceu ano passado em
Arraste-Me Para o Inferno e
Avatar) interpreta o químico Yusuf. Ele desenvolve o sedativo que deixa os outros componentes do grupo sonhando em diferentes estados.

Fechando o elenco estão Tom Berenger, no papel de Peter Browning, Pete Postlethwaite, no papel de Maurice Fischer, e o ótimo Michael Caine, outro grande parceiro de Christopher Nolan, em uma pequena participação como Miles, professor de Ariadne e sogro de Cobb.
A Origem mostra, mais uma vez, que Christopher Nolan se superou. Espero que desta vez a Academia não seja injusta com o diretor, como foi com
Batman – O Cavaleiro das Trevas. É muito bom admitir que o seu diretor favorito é um gênio, e finalmente posso afirmar isso.
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