Não cheguei a dedicar muito tempo
aos jogos da franquia Warcraft, de
forma que o pouco que conheço sobre eles se resume ao fato de terem conseguido
expandir sua história por várias outras mídias, criando uma grande base de fãs
desde que começou há mais de 20 anos. Depois de um bom tempo em desenvolvimento,
o projeto para que todo esse universo fosse para os cinemas se torna realidade agora
pelas mãos de Duncan Jones (filho do saudoso David Bowie e responsável pelos
excelentes Lunar e Contra o Tempo). O resultado dessa
adaptação é satisfatório, chamando atenção principalmente pelo brilhantismo de
seu trabalho com performance capture,
mostrando como a tecnologia não para de evoluir.
Escrito pelo próprio Duncan Jones
em parceria com Charles Leavitt, Warcraft
acompanha os conflitos entre os humanos do reino de Azeroth e os orcs de
Draenor, lugar que está morrendo gradualmente. Por conta disso, o maléfico Gul’dan
(Daniel Wu) pretende tomar Azeroth com seu grande grupo de guerreiros a fim de
fazer ali o novo lar dos orcs. Mas o chefe do clã Lobo de Gelo, Durotan (Toby
Kebbell), percebe que a destruição de Draenor não se deve a terra em si, levando-o
a conclusão de que dominar Azeroth não acabará com o problema, e ele vê nos
humanos, liderados pelo rei Llane Wrynn (Dominic Cooper) e seu fiel comandante Anduin
Lothar (Travis Fimmel), uma possível união que salve ambos os povos.
Ao invés de tentar sustentar a
narrativa um pouco mais em cenas de ação grandiosas, o roteiro acerta em cheio
ao dedicar a maior parte de seu tempo para desenvolver a trama e os personagens,
o que faz Warcraft não nos colocar
diante de uma guerra unidimensional na qual um lado representa o bem e o outro
o mal. Na verdade, além de as motivações dos personagens ficarem muito bem
estabelecidas, o filme dá espaço para que o público possa se identificar tanto
com humanos quanto com orcs, e o melhor exemplo desse detalhe certamente é o
fato de termos em Lothar e Durotan as principais âncoras emocionais da
narrativa. Além disso, fica clara a intenção do roteiro de mostrar que aqueles
povos são parecidos em alguma instância, como podemos ver na breve cena em que
o jovem mago Khadgar (Ben Schnetzer) e Garona (Paula Patton), descendente de orcs
e humanos, compartilham um com o outro os obstáculos pessoais que já
enfrentaram.
Com isso estabelecido, quando os dois
lados se chocam nas batalhas, estas se tornam naturalmente envolventes, sendo
também muito bem conduzidas por Duncan Jones, que mostra um controle admirável
com relação à mise-en-scène, o que compensa sua mania de espirrar o sangue dos
personagens na câmera, decisão que pouco acrescenta ao filme, servindo mais
para chamar atenção ao próprio diretor. Por essas cenas lidarem com os orcs e
com uma série de magias, é claro que são bastante carregadas nos efeitos visuais,
mas em momento algum a grandiosidade delas representa um espetáculo feio, não
seguindo os exemplos de obras como Quarteto Fantástico e Batman vs. Superman.
Mas a beleza técnica e visual de Warcraft não se resume só aos efeitos
visuais, incluindo também os figurinos e o design de produção que concebem
aquele universo, desde o reino de Azeroth e seus residentes até os acampamentos
que formam Draenor. Mas o maior destaque visual do filme é mesmo a concepção
dos orcs, que com a ajuda do performance
capture nunca surgem como meros bonecos digitais, ganhando peso em cena e
contando com detalhes que contribuem para seu realismo, seja os pelos
corporais, a locomoção ou pequenos tiques, como aqueles que Durotan faz com a língua.
Quando o personagem olha pensativo para a câmera, por exemplo, podemos ver em
seu olhar que há vida ali, algo que impressiona mais até do que o que se vê nos
exemplares mais recentes da série Planeta
dos Macacos. E
assim como nesses filmes, é curioso ver que os personagens digitais são mais
interessantes que os humanos, já que intérpretes como Travis Fimmell e Dominic
Cooper são um tanto limitados.
Enquanto isso, o filme também exibe
um interessante senso de humor, pontuando a história com gags orgânicas e
eficientes (àquela que traz uma ovelha merece destaque especial). No entanto,
vale dizer que, apesar de o roteiro se esforçar para desenvolver os personagens
e ser corajoso em certas direções que dá a eles, alguns momentos (como
aquele envolvendo uma grande barreira mágica) carecem
de um impacto maior na tela. Para completar, na reta final o filme parece mais
preocupado em deixar pequenos ganchos para uma possível continuação do que em
encerrar a trama que estamos acompanhando, algo feito de um jeito apressado.
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