É sintomático que, antes de
entrar neste Truque de Mestre: O 2º Ato,
eu tenha precisado pesquisar sobre o longa anterior para lembrar de mais
detalhes sobre ele e não correr o risco de me sentir perdido nesta continuação
(ainda que o certo, na verdade, fosse rever o filme). Afinal, mesmo tendo um
elenco carismático e rendendo alguma diversão, o primeiro Truque de Mestre é uma daquelas obras que começamos a esquecer já
durante os créditos finais. E se temos uma continuação agora, isso se deve
muito mais a bilheteria do filme do que a sua qualidade ou a algum desejo de
revisitar os personagens. Pois se o nível estabelecido pelo primeiro exemplar
já não era muito alto, este segundo não melhora as coisas. Pelo contrário,
aliás.
Com roteiro escrito por Ed
Solomon a partir do argumento concebido por ele e Pete Chiarelli, Truque de Mestre 2 traz o trio de Cavaleiros
Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), Merritt McKinney (Woody Harrelson) e Jack
Wilder (Dave Franco) vivendo clandestinamente e ganhando uma nova parceira em
Lula (Lizzy Caplan, preenchendo a ausência da personagem de Isla Fisher).
Enquanto isso, o líder deles, Dylan Rhodes (Mark Ruffalo), continua seu
trabalho no FBI fingindo que tenta captura-los, ao mesmo tempo em que lida com
o desejo de vingança de Thaddeus Bradley (Morgan Freeman), preso no filme
anterior graças a uma armação do grupo. Mas depois que uma das apresentações deles
não sai como planejado, todos se veem tendo que encarar o gênio da tecnologia
Walter Mabry (Daniel Radcliffe), que os obriga a roubar um chip que pode lhe dar
acesso a todos os computadores.
Dirigido por Jon Chu (o mesmo por
trás do desastroso G.I. Joe: Retaliação
e do documentário Never Say Never,
focado em Justin Bieber), Truque de
Mestre 2 não demora muito para mostrar que a história não será seu forte, e
se você achou bobo o fato de Dylan ficar no FBI fingindo que trabalha, espere
até vê-lo explicando o uso que faz de pombos. Com isso, o filme tenta se apoiar
um pouco mais nas cenas em que os Quatro Cavaleiros entram em ação com seus
truques de mágica, e nesse aspecto ele até tem duas sequências ágeis nas quais mistura
sua fórmula de heist movie (quando um
grupo tenta roubar alguma coisa) com Missão
Impossível, aproveitando nisso as habilidades absurdas dos personagens (por
sinal, às vezes tive a impressão de que eles não são mágicos, mas
sim mutantes). Mas Jon Chu não consegue fazer esse ritmo percorrer o restante
da projeção, e vale dizer que há momentos nos quais ele ainda mostra não ter
controle algum da mise-en-scène que concebe, como em uma briga visualmente bagunçada
envolvendo Dylan ou em uma pequena confusão envolvendo carros e motos.
Já o roteiro, além de mastigar a
trama (e os truques) com diálogos expositivos, traz uma série de reviravoltas
como no filme anterior, talvez por ter a esperança de que estas tornem a
narrativa instigante, o que não acontece. Aliás, o roteiro com certa frequência
parece estar mais preocupado com suas necessidades imediatas do que com a
história, incluindo detalhes que soam convenientes demais. Sendo assim, se temos
personagens que estão há um ano tentando aprender um truque sem ter o menor
sucesso, eles o dominam exatamente quando precisam utilizá-lo (algo que ocorre
duas vezes), enquanto que o vilão mostra ser capaz de prever em que superfície
um celular será colocado para que ele possa pegar as informações que precisa.
Se o filme é assistível de alguma
forma, isso se deve ao carisma de Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Dave Franco,
Lizzy Caplan e Mark Ruffalo, que certamente mereciam trabalhar com um material
melhor. Mesmo assim, eles conseguem criar uma dinâmica eficiente entre os Cavaleiros,
compensando o fato de quase todos eles não passarem de figuras unidimensionais.
A exceção talvez seja Dylan, cuja relação com o falecido pai é bastante
explorada e dá a Ruffalo a chance de trazer um pouco de humanidade ao
personagem. Já Morgan Freeman parece se divertir como Thaddeus Bradley, enquanto
Michael Caine volta a ser subaproveitado no papel do milionário Arthur Tressler
e Daniel Radcliffe, mesmo esforçado, interpreta em Walter Mabry um vilão
desinteressante e estúpido.
Não há muito que justifique a
existência de Truque de Mestre 2 ao
longo da projeção, de forma que o filme acaba sendo só uma continuação
descartável. E é provável que mal lembrarei dele ao entrar em Truque de Mestre
3. Isso, claro, se a franquia mantiver sua forçada continuidade.
Nota:
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