Uma das produções mais famosas protagonizadas
pelas Tartarugas Ninja certamente é a divertida série animada que durou dez
temporadas entre as décadas de 1980 e 1990, tendo sido responsável por boa parte
da popularidade que os personagens ganharam ao longo dos anos. Pois é difícil
não lembrar dessa animação durante este As
Tartarugas Ninja: Fora das Sombras, já que ela claramente foi a principal
fonte de inspiração por trás da concepção do filme, que continua as aventuras
dos heróis depois do fraco reboot
lançado há dois anos.
Situado um ano depois do
confronto com Destruidor (Brian Tee), As
Tartarugas Ninja: Fora das Sombras coloca Leonardo (Pete Ploszek), Raphael
(Alan Ritchson), Michelangelo (Noel Fisher) e Donatello (Jeremy Howard) incomodados
com o fato de terem que viver de maneira quase clandestina, o que inclui não poderem
assumir os créditos por seus atos heroicos. Enquanto isso, o cientista Baxter
Stockman (Tyler Perry) trabalha com o Clã do Pé e ajuda Destruidor a fugir da
prisão. É quando este se alia ao alienígena Krang (Brad Garrett), que pretende
montar uma grande máquina que abrirá um portal entre sua dimensão e a Terra,
precisando encontrar as últimas peças escondidas no planeta. Mas é claro que as
Tartarugas entram no caminho dos vilões, tendo a ajuda de sua amiga repórter April
O’Neil (Megan Fox) e do policial adorador de hóquei Casey Jones (Stephen Amell),
ao passo que Destruidor ganha o auxílio dos capangas Bebop e Rocksteady (Gary
Anthony Williams e Stephen Farrelly, respectivamente).
A influência da série animada não
se vê só no tom descontraído presente no filme (e que rege a maior parte das
produções centradas nas Tartarugas Ninja), mas principalmente nos novos personagens
que o roteiro de Josh Appelbaum e André Nemec traz para a história, como Bebop
e Rocksteady, de forma que o filme dá a entender que está apostando na mais
pura nostalgia para segurar as rédeas da narrativa. Mas vale dizer que isso não
o faz escapar de uma série de clichês, como ao abordar o preconceito das
pessoas com relação aos heróis (há uma cena na qual um personagem até solta a
velha frase “As pessoas temem o que não entendem”) ou o conflito de eles não
agirem como uma equipe e não aceitarem a si mesmos do jeito que são, aspectos
que apenas tornam o filme previsível. Além disso, o roteiro constantemente
mastiga a trama para o espectador com diálogos expositivos, chegando ao ponto
de tentar explicar o porquê de uma mutação transformar humanos em animais
específicos, como se houvesse uma razão plausível para isso (em compensação, os
roteiristas nem mencionam como que as Tartarugas têm acesso a um avião em determinado
momento, provando que só se preocupam com o que lhes é conveniente).
No entanto, Appelbaum e Nemec
corrigem um detalhe do filme anterior, fazendo com que as próprias Tartarugas
Ninja sejam as protagonistas e nossas âncoras emocionais ao longo da trama, empurrando
April O’Neil para a posição de coadjuvante, algo que ajuda essa continuação, visto
que o quarteto de heróis é infinitamente mais carismático do que a repórter, e
vale dizer que o trabalho de performance
capture que os concebe volta a se mostrar convincente. Os personagens humanos,
aliás, não são muito interessantes, até por conta de terem intérpretes pouco
expressivos como Megan Fox e Stephen Amell, enquanto Will Arnett como Vernon
Fenwick não surge tão engraçado quanto deveria e Laura Linney (o nome de maior
talento no elenco) é desperdiçada no papel da capitã de polícia Rebecca Vincent.
Sem falar nos vilões nada ameaçadores e que descartam uns aos outros quando o
roteiro precisa.
Mas mesmo com problemas claros, o
filme conta com um ritmo cativante, algo que se vê até nas cenas de ação. Nesse
quesito, a dinâmica dos protagonistas até rende alguma diversão, sendo que o
diretor Dave Green concebe sequências que se não são particularmente
empolgantes ou originais (o terceiro ato é quase uma cópia da Batalha de Nova
York vista Os Vingadores), ao menos
são bem elaboradas, visualmente compreensíveis e não atrapalham o ritmo da
narrativa. Comparado ao trabalho de Jonathan Liebesman no filme anterior, isso
acaba sendo uma evolução.
As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras não deixa de ser uma bobagem esquecível
e criativamente pobre como o primeiro filme. Mas é uma continuação que acaba
ganhando alguns pontos por funcionar como entretenimento e não cansar o público,
evitando ser outro grande embaraço envolvendo seus personagens.
Nota:
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