quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Brooklyn

Adaptação do livro de Colm Tóibín, Brooklyn é um filme que se constrói em cima não só da evolução de sua protagonista, mas também de um sentimento que ela carrega constantemente: as saudades de casa. Contando a história da jovem Eilis Lacey (Saoirse Ronan), que no início da década de 1950 sai da Irlanda em direção aos Estados Unidos (mais especificamente o bairro nova-iorquino do título), o longa do diretor John Crowley mostra os esforços de uma pessoa para se estabelecer em um lugar desconhecido estando longe das pessoas que ama. É algo que se desenvolve a fim de, eventualmente, criar um dilema sensível, aspecto que no papel talvez pareça simples, mas cuja execução revela um peso emocional admirável e natural.

No entanto, vale dizer que esse detalhe leva algum tempo para aparecer. Dedicando toda sua primeira metade para apresentar Eilis e como ela, aos poucos, constrói sua vida, o roteiro escrito por Nick Hornby inicialmente não se preocupa tanto em incluir conflitos e obstáculos na trama, de forma que é inevitável pensar que tudo ocorre com facilidade para a protagonista, o que passa uma breve impressão de que o filme não irá a lugar algum. Mas esse lado um tanto esquemático do roteiro não deixa de ser interessante, já que explora a bondade existente nas pessoas, com Eilis dando sorte de encontrar uma série de figuras que compreendem sua situação e estão dispostas a ajuda-la, desde a pensionista Madge Keogh (Julie Walters) até o padre Flood (Jim Broadbent). Com isso, John Crowley se vê montando uma narrativa que acaba envolvendo o público com seu grande coração, e o fato de tudo parecer perfeito em meio à história faz com que momentos mais dramáticos funcionem melhor quando aparecem.

Contribui muito para isso também, claro, a belíssima atuação de Saoirse Ronan, que usa seu talento para fazer de Eilis uma personagem com a qual é difícil não se importar ao longo da história. Exibindo sempre um grande carisma, a atriz passa com talento a insegurança, o medo e a tristeza de Eilis ao chegar nos Estados Unidos, brilhando ao mostrar maravilhosamente como ela vai gradualmente ganhando confiança e se tornando uma mulher mais forte, algo que pode ser visto tanto no trabalho que exerce em uma loja de departamento quanto em seu desejo de se tornar escriturária como sua irmã, Rose (Fiona Glascott), sem falar em sua própria postura em cena. E é bacana ver que se trata de uma personagem que não abre mão de seus objetivos pessoais, mesmo depois de iniciar um romance com Tony Fiorello (Emory Cohen) naquele que é um dos principais elementos da trama.

É exatamente por estabelecer todos esses detalhes que a narrativa ganha grande peso durante a segunda metade da projeção. Ao inserir aqui o principal conflito da história, apresentando dois caminhos igualmente promissores para o futuro da protagonista, Brooklyn ganha uma complexidade emocional inesperada e muito humana. É principalmente nisso que a evolução pessoal de Eilis e o carinho que ela sente pelas pessoas ao seu redor alcançam o ápice do valor que possuem na narrativa, sendo que John Crowley mostra sensibilidade na forma como conduz essa parte da trama, conseguindo evitar um possível melodrama.

Aliás, Crowley em momento algum faz parecer que o crescimento de Eilis é repentino de uma cena para outra, deixando claro que isso é resultado natural da experiência que ela vai adquirindo. Nesse sentido, o diretor ainda é inteligente ao colocar a personagem à esquerda do quadro (conhecido como o lado mais fraco da tela) quando ela ouve conselhos de uma mulher que conhece durante a viagem aos Estados Unidos, trazendo-a posteriormente à direita (o lado mais forte) quando ela própria surge dando conselhos a uma jovem imigrante, em uma rima narrativa que pontua perfeitamente o arco dramático que acompanhamos. Além disso, o filme é tecnicamente eficiente, desde a bela recriação de época concebida pelo design de produção até a fotografia de Yves Bélanger, que modula bem entre a felicidade e o conforto de alguns momentos, pincelando-os com cores mais quentes, e a tristeza de outros, ressaltada por tons mais frios.

Brooklyn é, principalmente, uma história sobre o que nos faz pertencer a um lugar específico, àquele que chamamos de “lar”. Ao focar a jornada pessoal da protagonista de maneira tocante, o filme revela uma beleza que o ajuda a ser uma surpresa agradável entre as produções do ano passado.

Nota:

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