Tendo lido detalhes de Foxcatcher quando ele estava em
desenvolvimento, devo dizer que acabei entrando no filme já sabendo que ele não teria um final feliz. E como se isso não fosse o suficiente, a produção ainda ganhou o subtítulo “Uma
História Que Chocou o Mundo” no Brasil para tornar tudo um pouco mais claro. No
entanto, mesmo que não houvesse essas coisas, logo nos primeiros minutos já daria para
perceber que este novo trabalho do talentoso Bennett Miller (de Capote e O Homem Que Mudou o Jogo) não seria particularmente leve ou fácil
de digerir. Isso porque o diretor monta uma narrativa inquietante no modo como trata
sua história baseada em fatos, o que ocorre principalmente graças a seus
personagens complexos.
Escrito por E. Max Frye e Dan
Futterman, Foxcatcher tem início em
1987 e acompanha o campeão olímpico de luta greco-romana Mark Schultz (Channing
Tatum), que deseja ser o melhor do mundo. Para isso, ele sempre treina com seu
irmão, Dave (Mark Ruffalo), que é um dos mais reconhecidos lutadores da modalidade.
É então que Mark vê uma grande chance para avançar mais na carreira quando o
milionário John du Pont (Steve Carell) o convida para entrar em sua equipe, a
Foxcatcher, onde receberia todo o apoio necessário para se tornar um lutador
ainda melhor. Mas ao aceitar a proposta, Mark não faz ideia de que as intenções
de du Pont em termos psicológicos não é exatamente ajudar jovens atletas a
realizarem seus sonhos, algo que se deve a relação dele com sua mãe, Jean (Vanessa
Redgrave).
Foxcatcher é um conto envolvendo personagens que querem sair da
sombra das pessoas que consideram superiores, ao mesmo tempo em que se sentem
dependentes delas de alguma maneira. Enquanto John passa por isso com sua mãe,
que inclusive não vê a luta greco-romana como um esporte, Mark passa com seu
irmão, ainda que em um grau menor. Assim, não é à toa que eles sejam as figuras
que mais passem estranhamento para o público quando aparecem em cena, revelando-se
introspectivos e com certa dificuldade para se expressar, e a amizade que surge
entre eles parece vir pela necessidade que ambos têm de se destacarem.
Explorando a complexidade desses
relacionamentos, Bennett Miller inteligentemente cria uma atmosfera que
incomoda por sua calmaria por vezes excessiva, detalhe perceptível até pelo uso
bastante econômico da trilha de Rob Simonsen. Dessa forma, quando os
personagens agem de um jeito explosivo (como quando Mark destrói um quarto), tais
cenas causam uma impressão maior pelo contraste que é criado. Mas isso também
ajuda a compor o tom melancólico que permeia o filme, algo que Miller ainda estabelece
de maneira muito natural, seja através de planos longos ou pela bela fotografia
de Greig Fraser, que tira parte da vida que se vê na tela.
Mas considerando seus personagens,
Foxcatcher é uma obra cuja força poderia
se perder caso contasse com um elenco pouco talentoso, o que felizmente não é o
que acontece. Channing Tatum (que cresceu muito como ator nos últimos anos) se
destaca ao encarnar Mark como um jovem solitário, que passa a maior parte do tempo
pensando apenas em quanto quer se aprimorar no esporte, e até por isso ele parece
se indignar com o fato de seu irmão ter constituído uma família para a qual tem
que dar atenção. Dave, por sua vez, é interpretado pelo excelente Mark Ruffalo com
uma sensibilidade admirável, deixando claro desde o início o amor e o cuidado que
ele tem com o caçula, desenvolvendo uma brilhante dinâmica com Tatum, com quem
compartilha uma curiosa postura em cena, já que ambos parecem sempre estar em
um ringue. Mas é Steve Carell quem rouba o filme com sua fantástica atuação
como John du Pont. Apostando em um jeito meio desconfortável e em uma fala
pausada, Carrell transforma du Pont num homem cujas boas ações escondem um indivíduo
desequilibrado e imprevisível. É um trabalho que comprova de vez que Carell não
é só o ótimo comediante com o qual nos acostumamos, mas um ator talentosíssimo.
Foxcatcher é um drama esportivo diferente de boa parte das produções
do gênero. Não é um trabalho inspirador, que mostra uma espécie de superação.
Ao invés disso, ele prefere se estabelecer como um grande estudo de personagem enquanto
faz um retrato impactante de acontecimentos trágicos, encontrando nisso a
melhor forma de contar sua história e rendendo um grande filme.
Nota:
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